Rose Brandão

Estelionato Sentimental: entenda o golpe que nasce da solidão e como proteger moradores

Entenda como golpistas se aproveitam da carência emocional e como síndicos e moradores podem identificar e prevenir o estelionato sentimental

Por Rose Brandão

17/10/25 12:53 - Atualizado há 11 dias


Vivemos uma fase da vida adulta marcada pela hiperconexão. Na busca por respostas para problemas como insônia, solidão, ansiedade e estresse, estão à disposição a internet, aplicativos de relacionamento e redes sociais, que se tornaram palco de encontros rápidos, trocas intensas e carências expostas.

No entanto, esse ambiente digital, criado para aproximar pessoas, também abriu espaço para um golpe perverso e emocionalmente devastador: o estelionato sentimental.

Nos condomínios, é cada vez mais comum encontrar pessoas morando sozinhas, especialmente após separações, aposentadorias ou mudanças de cidade.

Muitas acabam recorrendo ao mundo online em busca de conexão e afeto e, infelizmente, se tornam alvos fáceis de criminosos que utilizam o amor como instrumento de manipulação.

Estelionato sentimental: atuação do golpista é padrão

O roteiro é quase sempre o mesmo: o golpista identifica alguém que há muito tempo está sozinho, aproxima-se com atenção, carinho e conversas envolventes, até criar um vínculo afetivo.

Então, vem a primeira armadilha: um pedido de ajuda financeira, embalado em uma suposta “emergência” ou “problema temporário”.

A partir daí, as histórias se multiplicam, as desculpas se sofisticam e as solicitações de dinheiro se tornam cada vez mais frequentes, sempre com justificativas emocionais ou dramáticas, transformando a situação em um contrato invisível de dependência emocional.

Como síndicos, já recebemos relatos de vítimas que, mesmo maduras e experientes, acreditaram em cada palavra. Outras preferem o silêncio, presas à vergonha de terem confiado sem desconfiar por um instante sequer, o que dificulta a prevenção e a conscientização. 

Especialistas em comportamento humano, como Flavio Calheiros, destaca que por trás do estelionato sentimental, tanto do golpista quanto da vítima, está a carência afetiva.

Esse sentimento, quando não reconhecido ou tratado, pode levar a atitudes extremas: de um lado, a entrega cega e idealização; de outro, a manipulação e o controle.

O estelionatário emocional muitas vezes também é alguém que busca validação e poder, tentando preencher sua própria falta de amor através da dominação do outro.

Ações de prevenção ao estelionado sentimental dentro dos condomínios 

É doloroso perceber que a carência e a solidão possam abrir espaço para que alguém use o amor como moeda de troca.

E aí me pergunto: quando foi que passamos a desconfiar tanto das pessoas a ponto de nos fecharmos para novas experiências, e ao mesmo tempo ficamos vulneráveis a falsas promessas?

Não sou psicóloga nem terapeuta, mas vejo que o olhar, que antes enxergava o outro como único e especial, parece ter sido substituído por termos frios como “investimento”, “retorno” e “custo-benefício”.

O mais triste é que muitas dessas vítimas escolheram viver em condomínios em busca de segurança — mas o perigo chegou por onde menos esperavam: o ambiente virtual.

O resultado? Medo, decepção e uma transformação comportamental: pessoas mais fechadas, desconfiadas e, muitas vezes, difíceis de lidar no dia a dia. É uma perda que não é apenas financeira, mas profundamente humana.

É fundamental que síndicos e gestores condominiais promovam rodas de conversa, palestras e ações educativas sobre segurança emocional e digital como ação preventiva.

Como diz Flavio Calheiros, “todo comportamento que fere o outro nasce de uma falta interior”. Assim, combater o estelionato sentimental é também promover a saúde emocional, a empatia e o resgate dos valores humanos dentro e fora dos condomínios.

(*) Rose Brandão é formada em Administração de Empresas pela FMU. Certificada em Administração de Condomínios pelo Secovi-SP. Atua como Síndica Profissional na empresa Exclusiva Síndico.