Amanda Accioli

Cansado de ouvir a frase “Eu pago o seu salário!”?

Saiba como responder de forma profissional à frase “eu pago o seu salário” e alinhar expectativas entre síndico e moradores no condomínio.

Por Amanda Accioli

25/09/25 04:49 - Atualizado há 23 dias


Quem exerce a função de síndico por algum tempo já se deparou, ou provavelmente ainda vai se deparar, com a fatídica frase: “Você tem que fazer isso, porque eu pago o seu salário!”.

Por mais desconfortável que seja ouvir algo assim, é importante compreender que, na maioria das vezes, essa afirmação por parte de alguns condôminos nasce de um equívoco sobre o papel do síndico e a própria estrutura de funcionamento de um condomínio.

O síndico é o representante legal do condomínio, eleito pela assembleia, e tem suas atribuições previstas no Código Civil e na convenção condominial.

Ainda que receba remuneração ou isenção de taxa, o síndico não é subordinado a um morador individualmente, mas, sim à coletividade. Sua função é atender ao interesse comum, respeitando as decisões assembleares e as regras vigentes, e não executar ordens particulares que não estejam previstas nas suas obrigações.

Como agir frente à frase "eu pago o seu salário!"

Diante de uma fala desse tipo, o primeiro passo é manter a calma. Responder de forma reativa ou irônica só acirra o clima e afasta a possibilidade de um diálogo construtivo.

O ideal é ouvir, identificar qual é a demanda real por trás da frase e explicar de forma clara como funciona a atuação do síndico.

Uma boa resposta é aquela que acolhe a preocupação, mas deixa claro os limites técnicos e legais, como no exemplo: “Entendo a sua preocupação, e minha função é administrar o condomínio seguindo as decisões da assembleia e a legislação. Vamos analisar a sua solicitação e verificar de que forma o condomínio pode ou não atuar nesse caso.”

Esse tipo de abordagem retira o foco da discussão pessoal e leva a conversa para o campo institucional, reforçando que a atuação do síndico é pautada pelo interesse coletivo e não por pressões individuais.

Reflita se a cobrança do condômino é legítima

É fundamental também diferenciar quando a cobrança é legítima e quando ela é inadequada. Por exemplo, se houver omissão em relação a obrigações do condomínio, como manutenção das áreas comuns ou cumprimento de decisões assembleares, o morador tem razão. 

Porém, nos casos em que se exige interferência em conflitos particulares entre vizinhos ou a execução de tarefas que não cabem ao condomínio, o pleito não tem fundamento.

Além disso, uma comunicação preventiva e constante com os moradores é a melhor forma de evitar mal-entendidos desse tipo.

Informar periodicamente sobre o que é responsabilidade do condomínio, o que é responsabilidade do morador e como funciona a remuneração do síndico ajuda a alinhar expectativas e a reduzir o uso de frases como “eu pago o seu salário” em momentos de tensão.

O segredo está na postura: manter serenidade, embasamento técnico e foco no que diz a legislação e a convenção. Dessa forma, o síndico demonstra profissionalismo, preserva o respeito mútuo e garante que as decisões e ações na gestão condominial sejam guiadas pelo interesse de todos e não por exigências isoladas.

(*) Amanda Accioli é Síndica Profissional e Advogada Condominialista, Diretora Nacional da Sindicatura da ANACON (Associação Nacional da Advocacia Condominial), Membro da Comissão Especial de Direito Condominial da OAB/SP, Síndica associada à AABIC e ao Secovi-SP. Palestrante e articulista. Instagram: @acciolicondominial | e-mail: amandaaccioli.adv@gmail.com