11/09/25 06:25 - Atualizado há 2 dias
A confiança é a base de qualquer boa gestão condominial. É ela que une moradores, síndico, administradora e conselho. Mas basta uma brecha nos controles para que tudo comece a ir para um mau caminho (e, quando falamos de fraudes, o prejuízo costuma ir muito além do dinheiro desviado).
Em muitos casos que analisamos, os desvios começam pequenos e passam despercebidos. Às vezes se inicia com um contrato superfaturado, uma compra sem cotação, ausências documentais, e quando alguém resolve questionar, pode ser que o prejuízo já esteja feito. E a conta, invariavelmente, sobra para os moradores.
Fraudes em condomínios afetam diretamente o bolso de todos. Um desvio de R$50 mil, por exemplo, pode representar um aumento inesperado na taxa condominial, atrasos em manutenções importantes e cortes em serviços básicos.
Em momentos de juros altos e economia instável, isso pode comprometer o equilíbrio financeiro do condomínio por meses ou até anos.
Infelizmente, temos diversos clientes que acompanham a reestruturação e reorganização financeira devido a fraudes do passado, que geralmente geram gastos acumulados de manutenção, pagamento de juros e multas de impostos e taxas em atraso não pagas.
Já participei de casos em que o condomínio precisou de cinco anos para se “reerguer” de uma gestão que prejudicou fortemente o caixa e toda a operação do condomínio.
E o problema não para por aí. Além da perda financeira, há um dano invisível, mas talvez ainda mais sério: a desconfiança.
Quando a transparência da gestão é questionada, surgem atritos, assembleias tensas e um clima pesado no dia a dia. O condomínio perde valor de mercado, e muitos moradores acabam desistindo de vender ou alugar seus imóveis com medo da má fama do local.
A boa notícia? Dá para evitar esse cenário. Auditorias regulares, controles internos bem definidos, participação ativa dos condôminos e uso de ferramentas digitais para acompanhamento das contas são algumas das medidas que fazem toda a diferença.
Não se trata apenas de fiscalizar, trata-se de criar uma cultura de responsabilidade e de gestão profissionalizada.
No final das contas, nem sempre a maior perda provocada por uma fraude está só no que foi desviado, mas no que se perdeu de confiança, convivência e reputação. Ignorar esse risco é correr o perigo de ver o patrimônio coletivo se deteriorar, aos poucos, de dentro para fora.
(*) Marco Bole é sócio-diretor da SGEx Auditoria de Condomínios, especialista em auditorias investigativas e preventivas, e perito judicial com ampla experiência em investigações de fraudes no Brasil, Canadá e Estados Unidos.