Fernando Augusto Zito

A arte de gerir condomínio

Aprenda a equilibrar inteligência emocional, liderança, respeito à lei e empatia para construir um ambiente condominial mais seguro, justo e harmonioso  

Por Fernando Augusto Zito

17/10/25 11:49 - Atualizado há 2 dias


A vida em condomínio, apesar de muitos benefícios, pode se tornar desafiadora para o síndico. Afinal, gerenciar diferentes personalidades, mediar conflitos e garantir o cumprimento das normas exige muito mais do que um bom planejamento administrativo.

São necessários o conhecimento legal aliado à inteligência emocional e à capacidade de liderar com firmeza, mas sem deixar de lado o diálogo e o respeito. 

O papel do síndico vai muito além das tarefas operacionais e financeiras; ele é o mediador entre os interesses dos moradores e a necessidade de manter a convivência harmônica dentro do que o regimento interno do condomínio, a convenção e o Código Civil determinam.

No entanto, aplicar a lei de forma justa e sábia nem sempre é uma tarefa fácil. Muitas vezes, isso requer um posicionamento claro e a habilidade de manter-se neutro em situações delicadas, que mistura problemas emocionais e reações intempestivas dos condôminos. 

Um exemplo clássico é lidar com moradores que exigem a demissão de um colaborador, baseado em insatisfações pessoais ou comentários sem fundamento.

Nessas situações, o síndico deve ter clareza e firmeza para comunicar que questões trabalhistas seguem as normas legais e que qualquer decisão não será baseada em pressões individuais, mas no melhor interesse da coletividade e no respeito à lei.

Essa abordagem demonstra liderança e protege tanto a administração quanto os próprios colaboradores, evitando problemas maiores, como ações trabalhistas ou insatisfações em massa. 

Gestão de conflitos em questões sensíveis

Outro cenário muito comum é a gestão de conflitos entre moradores sobre questões como barulho, uso de áreas comuns ou vagas de garagem.

Muitas dessas desavenças poderiam ser resolvidas com uma conversa franca e mediada, antes de aplicar sanções ou notificações formais.

É aqui que a inteligência emocional do síndico entra em cena: saber ouvir ambas as partes, validar os sentimentos envolvidos e, em seguida, aplicar as regras de forma imparcial não apenas beneficia o condomínio, mas também fortalece a imagem do síndico como um mediador justo. 

Leis e normas: ferramentas e não armas

Conhecer profundamente as normas que regem o condomínio e o Código Civil é essencial para embasar decisões, mas também é importante deixar claro que a lei não é uma arma, mas uma ferramenta.

Quando usada com sabedoria, serve para proteger o condomínio de problemas legais e alinhar as expectativas de todos os moradores.

Por exemplo, em situações de inadimplência, cada passo — desde a comunicação inicial até as medidas mais severas, como o protesto da dívida ou ações judiciais — deve seguir um rigoroso alinhamento com a legislação.

Deixar isso claro em circulares ou reuniões elimina o espaço para interpretações equivocadas ou acusações de arbitrariedade. 

Ainda assim, ser síndico exige mais do que apenas aplicar o regimento interno. Existe um componente político natural nesse cargo, o que significa que muito do trabalho consiste em equilibrar interesses divergentes.

Mas cuidado: tentar agradar a todos pode ser uma armadilha. Síndicos que evitam tomar decisões firmes ou se posicionar em situações polêmicas frequentemente perdem credibilidade e reforçam o caos.

Por isso, ter postura firme, transparência em cada decisão e um posicionamento que valorize o coletivo são atitudes que fazem toda a diferença. 

Boa gestão de pessoas se reflete na qualidade do trabalho

Além disso, vale ressaltar a importância de cuidar da relação com os colaboradores. O síndico não apenas gerencia trabalhadores, mas cria o vínculo entre eles e os moradores.

Garantir que eles sejam tratados com respeito, protegê-los de comportamentos abusivos e manter um ambiente de trabalho saudável reflete diretamente na qualidade dos serviços prestados.

Um colaborador que se sente seguro e valorizado realiza suas tarefas com mais dedicação, contribuindo para a harmonia e funcionalidade do condomínio. 

Reagir às demandas de forma construtiva

A inteligência emocional do síndico também está relacionada à forma como ele reage às demandas, muitas vezes feitas com tom de crítica ou desgosto. Manter a calma, escutar, validar a preocupação do condômino e alinhar as expectativas são práticas que transformam desafios em oportunidades de melhora.

Em vez de encarar reclamações como ataques, o síndico pode utilizá-las como uma maneira de entender as prioridades da comunidade e propor soluções de forma coletiva e eficaz.

Sugestões e Caminhos para Síndicos Eficientes

Ser um síndico de sucesso significa equilibrar conhecimento técnico, inteligência emocional e liderança. Para um desempenho eficaz no cargo, algumas práticas devem ser parte da rotina de qualquer gestor condominial:

Ao aplicar a lei com sabedoria e somar a ela atitudes empáticas, o síndico não apenas resolve conflitos, mas também constrói uma comunidade mais harmoniosa e organizada.

Gestores que conseguem unir conhecimento legal, inteligência emocional e liderança consistente não apenas superam desafios, mas deixam um legado positivo que motiva os condôminos e inspira respeito por sua gestão.

Se você é síndico ou deseja ser, lembre-se: o respeito às normas é o alicerce, mas é a forma como você aplica e comunica suas decisões que determina sua eficiência e sucesso.

(*) Fernando Augusto Zito - Advogado militante na área de Direito Civil; Especialista em Direito Condominial; Pós-graduado em Direito e Negócios Imobiliários pela Damásio Educacional; Pós-Graduado em Direito Tributário pela PUC/SP; Pós-Graduado em Processo Civil pela PUC/SP; Membro da Comissão de Condomínios do Ibradim, Palestrante especializado no tema Direito Condominial.