Síndico de destaque

Síndica trans revoluciona condomínio após gestão caótica

Marcela Volpato denunciou irregularidades, elegeu-se síndica e vem transformando o prédio: tirou a conta do negativo, fez benfeitorias e melhorou a convivência

Por Gabriela Piva

02/06/22 10:59 - Atualizado há 1 ano


A síndica transsexual Marcela Volpato, do Edifício Coimbra, no centro de São Paulo, é destaque do SíndicoNet em junho, quando se celebra o Mês do Orgulho LGBTQIA+, para mostrar como revolucionou seu condomínio após um escândalo da antiga gestão.  

O prédio ganhou fama quando Marcela denunciou a antiga síndica por contratar "serviço" para retirar moradores de rua.

“A atitude da ex-síndica me chocou muito. A pessoa em situação de rua é um problema de saúde pública crônico e deve ser tratada com humanidade", defende a síndica. 

Em conversa com o SíndicoNet, Marcela comenta que os "desvios" eram muito mais profundos: "Sempre apresentavam um único orçamento para nós. Por exemplo, pagaríamos 300 mil reais pela modernização do elevador, quando o preço, na realidade, ficava em torno de 150 mil reais", explica.

Antes da gestão: denúncia, temor e apoio da comunidade

O nome de Marcela apareceu como possibilidade para o cargo após a denúncia que fez contra a ex-síndica. A situação gerou diversos desconfortos e medo para a atual gestora.

"Combinava com uma amiga vizinha para ficar de olho nas câmeras do condomínio quando eu voltava para casa, já que ela tinha acesso às imagens. Como eu não sabia com quem estava lidando, tinha medo de me pegarem na esquina e fazerem sabe-se lá o que comigo", diz Marcela.

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Enfrentar a gestão anterior não foi um obstáculo para Marcela, que se tornou uma mulher forte, corajosa e destemida com os desafios superados em toda sua trajetória. "Sempre precisei enfrentar as situações na minha vida", pontua. 

A eleição: votos de mais da metade dos condôminos

Quando chegou o dia da assembleia em que seria escolhido o novo síndico do prédio, um pouco mais da metade dos condôminos, que eram seus vizinhos há cerca de dois anos, elegeram Marcela como a nova gestora do Edifício Coimbra. 

A síndica ressalta que, apesar de ser transsexual, ninguém da comunidade LGBT votou nela na eleição do condomínio. "Hoje em dia, pedem desculpa porque viram o que fiz pelo condomínio", enfatiza. 

Condomínio de cara nova: equilíbrio financeiro, benfeitorias e harmonia

Marcela tirou a conta do condomínio do negativo após assumir a gestão em novembro de 2020. Isso só foi possível graças à redução de custo geral do prédio, que contou, inclusive, com implantação de portaria remota

Com a redução de custos e a formação de um fundo, os passos seguintes da síndica foram a implementação do bicicletário, do jardim, pintura da portaria e até implantação de um sistema de reciclagem de lixo.

A comunicação também foi fundamental para a mudança da administração condominial: criou um grupo no WhatsApp para enviar comunicados. A novidade humanizou a gestão e proporcionou uma melhor convivência entre moradores. 

"Antigamente, ninguém se dava 'bom dia' nos corredores. Por causa da nova comunicação, isso mudou!", diz. 

Apesar de todos serem grandes feitos, a sua maior alegria foi ter realizado a modernização de dois elevadores sem rateio e pela metade do preço que a gestão anterior havia orçado. 

Marcela explica que deu R$ 45 mil de entrada e os outros R$ 100 mil estão sendo pagos em parcelas mensais com o dinheiro que o condomínio arrecada na conta ordinária. 

Além disso, pretende realizar a pintura externa e interna do prédio e dar andamento ao AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) no resto de sua gestão.

Marcela credita o sucesso de sua administração ao histórico profissional que tem. Antes de se tornar síndica, trabalhou como cabeleireira e abriu com o marido um restaurante no bairro do Bixiga, em São Paulo. 

Estímulo ao respeito e à boa convivência entre vizinhos

Marcela Volpato ressalta a importância de manter um contato cuidadoso e gentil com os vizinhos. Segundo a síndica, nenhuma discriminação, seja por raça, orientação sexual, identidade de gênero, religião, deficiência física, deve ser tolerada. 

"Quando um condômino sofrer algum tipo de discriminação, deve comunicar o síndico para que este tome as devidas providências. Para isso, deve fazer valer o Regimento Interno e as leis", orienta. 

Caso você saiba de algum caso de LGBTfobia no seu condomínio, disque 100 e denuncie!

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