Guia sobre Segurança

Os 5 pontos mais vulneráveis na segurança do condomínio

Depois da violência dos arrastões, a nova onda de assaltos e furtos põe em xeque os métodos anti-invasões usados até aqui

Por Inês Pereira

22/05/19 12:17 - Atualizado há 4 anos


Todo mundo tem uma história para contar sobre invasões, roubos e furtos em condomínios residenciais. Pouco se fala, entretanto, sobre o porquê de tanta recorrência.

Pensar criticamente em como o quesito segurança foi conduzido até aqui é um exercício difícil. Significa encarar as fragilidades do condomínio e, talvez, a constatar que a gestão encontrou uma zona de conforto. 

E vem a pergunta: Houve negligência? Onde erramos no nosso projeto de segurança? Isso exige muito esforço e, sobretudo, franqueza. 

Para o especialista em segurança condominial, José Elias de Godoy, existe no ar uma falsa sensação de segurança no condomínio, uma vez que a grande maioria das pessoas vai residir ali justamente por causa da segurança. Quando percebe que não é tão seguro quanto pensava, se frustra.

Há vários pontos vulneráveis na segurança dos condomínios, fortalecidos por falhas nos procedimentos. É sobre esse assunto importante e urgente que o SíndicoNet vai falar à seguir. 

O que mudou nas formas de invasão a condomínios?

Entre 2011 e meados de 2016, a cidade de São Paulo, por exemplo, chegou a ser chamada por alguns de “capital do arrastão”.

O padrão de invasão era o mesmo: quadrilhas numerosas, fortemente armadas, na maioria entrando pela garagem. Depois de render os funcionários, faziam a limpa em quantos apartamentos dessem conta.

Essa onda de arrastões, em todo o Brasil, vem perdendo a força. Mesmo assim, nesse começo de ano, duas ocorrências foram registradas, ambas em condomínios da classe média alta, na zona oeste de São Paulo. Um, em março, em Higienópolis; e o outro, em abril, na região dos Jardins.

Em 2018, os especialistas em segurança condominial constataram mudanças importantes na atuação dos bandidos – 90% dos 1300 crimes cometidos contra condomínios no primeiro trimestre, ocorreram pela porta da frente.

Nesse novo modus operandi, novos disfarces como garotas e garotos bem-vestidos, ligados a pequenas quadrilhas, se passam por familiares, pedindo alguma informação ou interessados em alugar um imóvel, entre outras desculpas. 

Investem em diversos disfarces - rabinos, técnico de operadora, parente, etc. - e, com uma boa conversa, conseguem entrar no condomínio facilmente.

Ao contrário do arrastão, em vez de roubar vários apartamentos, geralmente vão direto naquele em que o dono não está e furtam o que conseguem levar numa mochila ou mala. 

Dá para supor que, em muitos casos, eles já têm a informação prévia sobre hábitos dos moradores e objetos de valor. É a chamada modalidade pontual.

Vulnerabilidade 1. Porteiros mal-treinados

De fato, as últimas invasões ocorridas revelam problemas sérios nas portarias

Os especialistas são unânimes: a tecnologia é importante, mas não é o principal fator que garante a segurança de um condomínio. É muito importante fazer uso dela, ter um bom poder de inibição para o assaltante.

Mas o fator humano, que é o elo mais frágil da corrente, ainda é essencial. 

A maioria dos casos ocorridos ultimamente aconteceu por falha de Recursos Humanos. Não foi pulando muro ou cerca, nem com uso de força. Por isso é tão importante fortalecer o fator humano”, afirma Nilton Migdal, consultor de segurança.

No final das contas, o funcionário decide quem entra no prédio. Ele tem esse poder nas mãos. Por isso, precisa ser muito bem escolhido e treinado para saber na ponta da língua quais as normas e os procedimentos que deve executar. 

Não podemos esperar o bom senso do porteiro; e sim, que tenha tudo predefinido e conheça bem o fluxograma, como agir em caso de tentativa de invasão. E, nesse sentido, ele precisa de treinamento e de todo o respaldo do síndico e do zelador

Portanto, é muito importante realizar treinamento com os funcionários e, pelo menos, uma vez a cada seis meses, uma simulação “com pegadinha para tentativa de entrada no condomínio e avaliação da  atuação dos controladores”, aconselha Migdal.

Vulnerabilidade 2. Condôminos descuidados  

Não podemos nos esquecer que precisa haver normas de procedimentos e obrigações também para os condôminos. Muitas vezes, eles forçam o porteiro ou o zelador a cometer erros

Todos nós acompanhamos o recente caso do morador que humilhou o porteiro por estar cumprindo o regulamento – deixar entrar apenas os familiares devidamente registrados, e com autorização para entrar. 

O descuido do morador é outro agravante a ser considerado. Mesmo que o condomínio tenha um aparato completo de equipamentos de segurança, treinamento aos colaboradores, os condôminos são peças-chave para a segurança do condomínio. 

A falha vem dos condôminos e é reforçada pela distração dos porteiros. O síndico profissional Marcos Druzilli dá o exemplo recorrente: 

“Um morador que está saindo e tem uma pessoa na entrada. Este morador não fecha o portão e deixa a pessoa entrar, sem saber quem é. O porteiro também deixa”.

Também são comuns os casos de moradores que fazem festas, sem que haja controle dos convidados. “Numa dessas situações, os assaltantes se infiltraram entre eles e fizeram um arrastão em plena festa”, conta Druzilli.

Dica: programe treinamentos e comunicados periódicos aos moradores, orientando-os sobre as regras de segurança.

A periodicidade é muito importante, pois é muito comum, e até natural, que os condôminos baixem a guarda e entrem em uma zona de conforto, quando não lembrados constantemente.

Eles precisam saber que uma atitude descuidada pode representar a oportunidade que o bandido espera para agir.  

Aproveite também as assembleias para dar avisos e reforçar a importância do cumprimento das regras do condomínio.

Vulnerabilidade 3. Falta de projeto de segurança adequado

Em primeiro lugar, todo projeto de segurança tem necessariamente que ser específico para o condomínio, e elaborado por consultores independentes, ou seja, que não indiquem os fornecedores de equipamentos. Sem isso, as chances de falhas são grandes.

Isso porque pode haver conflito de interesses se um consultor trabalha para uma empresa de segurança, e cada empreendimento tem características muito próprias – localizados áreas mais perigosas ou menos; em que prevalecem crianças ou idosos; se as tecnologias digitais não funcionam; o tamanho do condomínio, número de portarias e garagens; e por aí vai. 

Outro ponto a se considerar são os condomínios novos, onde as contrutoras, segundo Manoel W. Fonseca, diretor de Operações da Pro Security, em sua grande maioria, não contemplam o item segurança patrimonial em seus projetos.

“Ao iniciar a habitação, por meio de seus conselhos, os próprios moradores definem os  itens de segurança na medida em que surgem as necessidades e, muitas vezes, sem um projeto de segurança adequado. Consequentemente, as falhas só são percebidas quando o empreendimento é vitimado”, constata.  

Nesse sentido, prossegue, muitos dos problemas decorrem da falta de um projeto adequado de segurança que contemple proteção perimetral e  tecnologia para controle de acesso de pessoas e veículos. Fonseca destaca como boas soluções biometria, reconhecimento facial e tag.

Vulnerabilidade 4. Portaria remota de má qualidade

Parece até ironia. Mas um sistema criado para aumentar a segurança, se não for bem projetado ou tiver má qualidade, pode causar o efeito contrário, comprometendo a integridade do condomínio.

“Ao optar pela portaria remota, o síndico não está apenas comprando um produto; ele está adquirindo uma solução de segurança. Por isso é fundamental um projeto personalizado, com análise de risco”, recomenda Odirley Rocha, diretor comercial da Kiper. 

Em uma portaria remota de qualidade, a responsabilidade pelo funcionamento do sistema 24 horas deve ficar a cargo da empresa.

Para dar conta do recado, a empresa deve ser bem estruturada, oferecer um sistema completo que envolva e suporte com eficiência todo o sistema de comunicação, imagens, controle de acesso de carros e pedestres, portões, internet estável, alto nível tecnológico, e ainda oferecer garantias em contratos, como SLAs. 

Conforme Walter Uvo, diretor da Minha Portaria, o ponto mais importante dessa conduta é tirar o ser humano do local onde possivelmente haverá uma ocorrência. Ele explica: 

Ao deixar a gestão nas mãos do porteiro ou do zelador, se acontecer alguma complicação do tipo  "não estava gravando", "a câmera parou", "o DVR queimou" ou até mesmo "o bandido roubou o DVR", o aviso do problema chegará depois à central, sem a urgência necessária”. 

Mas se a preocupação é da empresa, Uvo prossegue, as providências são imediatas. “Você terá uma ação muito mais assertiva e coerente”. 

Outro ponto é a ausência da eclusa, tanto para pessoas quanto para veículos, que torna mais fácil a entrada de estranhos no vácuo do morador ou da pessoa autorizada a entrar.

“Se não der para ter a veicular, no mínimo, exija um sensor carona para alertar – caso uma segunda passagem aconteça no condomínio. Esse alerta vai para a central de monitoramento, e automaticamente é acionada a equipe de atendimento”, avisa Rocha.  

Vale ressaltar que a portaria remota que só faz a gestão do interfone tem inúmeras desvantagens e fragilidades com relação à outra. Não tem detecção de arrombamento de uma porta, um motor ou de falha no interfone que foi instalado – exemplos de monitoramentos importantes, para citar apenas alguns. 

Vulnerabilidade 5. Equipamentos de segurança obsoletos

Equipamentos que não funcionam bem ou são facilmente desarmados pelos bandidos não podem ser considerados bons aparatos de segurança. Também não adianta investir uma vez e não fazer a manutenção ou modernização

Se consideramos a hipótese de o bandido receber informação de dentro do condomínio, ele pode saber que o equipamento de gravação é precário ou nem funciona. E vai tirar proveito para traçar seu plano de invasão.

Mas se o condomínio investe em tecnologia e bons equipamentos de segurança, com a devida manutenção, tem meio caminho andado para coibir a ação de bandidos. 

Hoje, boas opções de equipamentos e soluções de tecnologia com preços acessíveis não faltam.

Reconhecimento facial, câmeras inteligentes, e biometria estão entre as inúmeras tecnologias que o mercado oferece atualmente para monitorar, controlar acesso, detectar e bloquear a presença estranha dentro e no perímetro do condomínio, além de realizar a comunicação necessária. Muitos desses equipamentos são controláveis pelo smartphone, via apps. 

Fortaleça a inteligência com recursos extras

Sabendo quais são os pontos críticos do condomínio, e porquê eles são vulneráveis, fica mais fácil pensar em como dificultar a ação dos bandidos. A partir daí, você terá a chance de melhorar, de fato, a segurança geral. 

Contar com o respaldo do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) também é uma possibilidade a ser considerada. Ali, os participantes têm acesso direto às autoridades da área. Podem, ainda, trabalhar interagindo com os órgãos de segurança pública

Outro projeto interessante para reforçar a segurança do condomínio é a comunicação entre guaritas vizinhas. Pode ser por telefone fixo, celulares (em especial, o WhatsApp), bem como Rádios HTs. 

Implante a cultura de segurança no seu condomínio

O ideal dos mundos é que os três aspectos – ótimos recursos físicos, tecnológicos e humanos – caminhem juntos e em equilíbrio. 

“A segurança de um condomínio está firmada em um triângulo, cujas pontas são segurança física e tecnológica, investir nos colaboradores e conscientizar os moradores. Uma das pontas descoberta já compromete a proteção”, sintetiza Godoy.

Somado a tudo isso, é fundamental que haja uma mudança de mentalidade, tanto dos prestadores de serviços, quanto dos moradores e proprietários dos condomínios. 

O síndico tem que estar atento às necessidades de seus funcionários, em especial dos porteiros, mas também do zelador; e fazer a comunicação periódica com os condôminos.

Nada garante que uma invasão ocorra no condomínio. Mas, as chances de uma surpresa ruim vão diminuir muito. 

Fontes consultadas: José Elias de Godoy (especialista em segurança condominial); Nilton Migdal (consultor de segurança e diretor da Migdal Consult); Marcos Druzilli (síndico profissional); Odirley Rocha (diretor comercial da Kiper) e Walter Uvo (diretor da Minha Portaria).