A Gestão Condominial Moderna: O Peso da Conveniência e o Custo da Incompetência
Nesta primeira parte do artigo, Albelio explica por que tratar a gestão condominial como fardo pode custar caro ao condomínio e comprometer sua sustentabilidade

A administração condominial no Brasil atravessa um momento de profunda transformação.
Durante décadas, consolidou-se uma cultura onde o cargo de síndico era tratado como um “fardo” a ser carregado alternadamente pelos moradores, numa espécie de rodízio compulsório que mais refletia obrigação social do que vocação administrativa.
Esta mentalidade, profundamente enraizada no tecido social brasileiro, tem gerado consequências que transcendem a mera inconveniência, configurando-se como uma ameaça real à sustentabilidade e prosperidade dos empreendimentos coletivos.
O condomínio contemporâneo não pode mais ser compreendido através das lentes simplificadoras do passado. Trata-se de uma entidade jurídica complexa, um microcosmo socioeconômico que demanda expertise multidisciplinar e visão estratégica.
A resistência em reconhecer essa realidade tem custado caro às comunidades residenciais, que frequentemente se veem mergulhadas em crises administrativas, financeiras e interpessoais que poderiam ser evitadas com uma abordagem mais profissional.
O paradigma da obrigação: raízes e consequências
Vamos analisar as origens culturais deste problema. A percepção do cargo de síndico como 'favor' ou 'sacrifício' tem raízes profundas na cultura brasileira, onde a gestão coletiva frequentemente é vista com desconfiança e onde o individualismo se sobrepõe ao senso de responsabilidade comunitária.
Esta mentalidade se manifesta na relutância generalizada em assumir posições de liderança em contextos condominiais, criando um ciclo vicioso onde os mais preparados se esquivam da responsabilidade, deixando o campo aberto para aqueles que aceitam por pressão social ou falta de alternativas.
Este fenômeno não é exclusivamente brasileiro, mas encontra aqui terreno particularmente fértil devido à combinação de fatores históricos, culturais e socioeconômicos.
A ausência de uma tradição sólida de gestão participativa e democrática, aliada à desconfiança nas instituições, contribui para que os moradores vejam a administração condominial como algo externo às suas responsabilidades pessoais.
O custo da incompetência institucionalizada
Quando a gestão condominial é exercida sem o devido preparo, os prejuízos se multiplicam exponencialmente. Não se trata apenas de decisões equivocadas pontuais, mas de uma cascata de consequências que podem comprometer irreversivelmente a saúde financeira e social do empreendimento.
As decisões tomadas sem embasamento técnico adequado frequentemente resultam em desperdício de recursos, seja através de contratos desvantajosos, obras desnecessárias ou mal executadas, ou investimentos mal direcionados.
A falta de conhecimento jurídico expõe o condomínio a riscos legais consideráveis, desde questões trabalhistas mal conduzidas até conflitos com fornecedores que poderiam ser evitados com uma negociação mais habilidosa.
Esses desafios revelam que a administração condominial não pode mais ser tratada como um 'favor' ou um 'fardo'. Mas se a conveniência abre espaço para a incompetência, o que exatamente caracteriza uma gestão realmente competente?
Essa é a reflexão que guia a segunda parte deste artigo, onde explorarei os pilares da profissionalização e os caminhos para transformar os condomínios em empreendimentos sustentáveis. Acompanhe por aqui, em breve o artigo entra no ar.
(*) Albelio Dias é Mestre em Administração, com pós-graduação em Matemática e Educação Tecnológica, além de graduação em Ciências/Matemática e Teologia. Atua como professor em programas de MBA e possui mais de 30 anos de experiência como síndico profissional. Atualmente, é coordenador de Educação no projeto Síndico+Gestão. Também é autor dos livros Condomínios em Perspectiva Multidisciplinar e Excelência na Gestão Condominial.