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Mundo estranho

Maritacas na fachada

Prédio em SP foi 'enfeitado' por centenas de aves

sexta-feira, 24 de março de 2023
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Prédio da Zona Leste de São Paulo tem a fachada 'enfeitada' por centenas de maritacas

Moradores relatam que fenômeno ocorre há anos; especialistas buscam respostas para a situação

Vizinhos silenciosos e pouco festeiros são raros de se encontrar nos dias de hoje. Mas moradores de um prédio da Zona Leste da cidade de São Paulo têm o desafio (e a honra) de conviverem com os campeões da algazarra: centenas de maritacas.

Aos olhos desatentos, a fechada de tijolos de um edifício da Rua Aguapeí, no bairro do Tatuapé, pode parecer enfeitada com pontinhos verdes. Cada um desses detalhes, na verdade, é um periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus), uma ave popularmente conhecida como maritaca que visita a estrutura do prédio há dezenas de anos.

O professor de educação física Bruno Henrique Pereira Moreno mora no prédio com a família há mais de 10 anos e desde que se mudou convive com essa companhia diária. “No começo, o barulho incomodava um pouco e, às vezes, acordávamos cedo com o som delas. Mas, com o passar do tempo, nos habituamos e tem dias que elas passam despercebidas”, comenta.

As maritacas são aves da família dos psitacídeos, um conjunto que inclui também papagaios, araras e periquitos. A bióloga Raquel Colombo estuda uma de suas “parentes” e as dinâmicas que realiza no meio urbano. “Diversas famílias de aves ocorrem nas cidades. Algumas espécies são mais sensíveis e outras demonstraram uma capacidade maior de adaptação. De uma forma geral, psitacídeos precisam que o ambiente tenha um abrigo para passarem a noite e repousarem, alimentos e cavidades para nidificação”, explica ela.

Apesar de sua familiaridade com o assunto, o registro do grupo tão numeroso no edifício do Tatuapé espantou. Esse aglomerado indica também que essas aves podem estar repousando juntas nos arredores. “Eu trabalhei no mestrado com as maracanãs-pequenas (Diopsittaca nobilis). Identificamos no Museu do Ipiranga mais 100 delas em dormitórios coletivos e no Butantã até 400. Mas ainda não tínhamos registros de dormitórios tão numerosos para o periquitão-maracanã”, afirma.

Quando a aproximação se torna um risco: "um dia estávamos escutando um barulho atrás do móvel da televisão. Quando olhamos, vimos que era uma maritaca que de alguma forma ficou presa na chaminé e desceu até o quarto andar. Conseguimos fazer com que ela saísse e fosse para fora", conta o morador Bruno Henrique

Pesquisadores buscam hipóteses para decifrar o motivo de tantos indivíduos dessa espécie se aglomerarem no edifício

Fome de terra?

Uma suposição para as aves se alojarem na estrutura do prédio é a chamada geofagia: o consumo de terra com o objetivo de reduzir o impacto de outros alimentos que a espécie tenha ingerido. “Há relatos de bandos de psitacídeos se aglomerarem em barrões nas margens de rios e em morros, a fim de comer argila para melhorar a nutrição deficiente em minerais e também para neutralizar toxinas de algumas plantas que se alimentam”, explica Fábio Ferrão Videira, biólogo Presidente do Centro de Estudos Ornitológicos (CEO).

Se o “ingrediente” da dieta poderia ser encontrado com facilidade nos tijolinhos da fachada, a explicação, porém, parece não se comprovar. Além de ser um comportamento ainda não observado em cidades, a ausência de danificações na estrutura do prédio sugere que as aves não estão removendo e comendo argila para sua nutrição. Bruno Henrique, morador do local, reforça essa tese: “Já ouvimos dizer que elas se alimentam dos tijolos. Nós vemos que elas realmente bicam os tijolos, mas não há desgaste aparente”.

Parada para afiar o bico?

A ausência de áreas florestais para um grupo grande como este também pode ser um motivo para a “adoção” do edifício como um ponto de descanso. “O atrativo dessas aves pelo prédio em questão, pode estar relacionado também pela estrutura arquitetônica, a qual permite o descanso de um grupo numeroso de aves ao mesmo tempo, colaborando com o instinto social dessa espécie”, afirma Fábio Ferrão reforçando que os sulcos na estrutura fazem com que as aves consigam se apoiar sem esforço.

Segundo Raquel Colombo, as maritacas também podem usar esse tempo de pausa na fachada para roer e esfregar o bico, um comportamento desenvolvido para afiar a ponta da mandíbula e deixá-la em boas condições para a captura de alimentos. “Essa situação como um todo demonstra a capacidade dessas espécies em avançar nas áreas urbanas e ocupar espaços novos que estão disponíveis. É uma perspectiva de conquista”, afirma a bióloga.

“Esquenta” para o voo?

Pesquisadores acreditam ainda que palmeiras plantadas na frente do prédio possam funcionar como um dormitório coletivo para essas aves. Esse ambiente pode ter sido escolhido por estar próximo de um local em que encontrem alimento fácil, na manhã seguinte. De acordo com o biólogo Thiago Filadelfo, especialista em reprodução de aves silvestres, as maritacas podem usar a estrutura do edifício como um ponto de encontro antes de irem para a área de dormitório.

“Se você parar na frente desse prédio e olhar para as palmeiras, por volta de 16h30 e 17h, deve ver vários grupinhos de maritacas vindo de todos os lugares: Leste, Oeste, Norte, Sul. Mas quando elas vão para o dormitório, não pousam direto. Ficam nos arredores, olhando para a árvore para ver se está tudo certo”, comenta ele.

Segundo o especialista, o fato de se organizarem nas paredes do edifício pode ser um “pré-passo” antes de pousarem nas palmeiras. Um processo semelhante também pode ocorrer na hora de despertar: as aves se afastam da área de dormitório se fixando no edifício antes de levantarem voo.

De fato, à cada manhã, a cantoria das maritacas anuncia o início de um novo dia. Aos moradores locais, a barulheira se tornou música e as visitantes transformaram-se em moradores oficiais. “A gente se sente próximo da natureza quando elas chegam, é algo que se tornou parte da rotina. É uma chance diária de ter a natureza literalmente na sua janela”, afirma Bruno Henrique.

Fonte: https://g1.globo.com

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