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Lígia Ramos


Obras invisíveis, cidades resilientes: o que os condomínios podem ensinar ao urbanismo

A falta de coordenação entre concessionárias expõe fragilidades urbanas que os edifícios já aprenderam a resolver com planejamento integrado

18/09/25 07:10 - Atualizado há 14 h
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Imagem de moderno conjunto de arranha-céus em São Paulo, incluindo uma ponte estaiada e ruas movimentadas ao redor, representando arquitetura urbana
Integração de redes nos condomínios garante eficiência e pode inspirar cidades a adotar soluções invisíveis, mas essenciais para a resiliência urbana
iStock

Ao longo da história, a vida em sociedade sempre demandou organização. O urbanismo clássico já nos mostrava isso. Na Grécia Antiga, por exemplo, as cidades eram preferencialmente criadas em locais privilegiados.

Já os romanos, criaram um modelo que poderia ser reproduzido em qualquer região. Projetadas com eixos claros — o cardo e o decumano — em desenhos cartesianos que favoreciam a circulação, a vida comunitária e a distribuição de suas obras de infraestrutura para distribuição de água.

Outras civilizações criaram outros modelos, com padrões circulares, orgânicos, adaptados a condições locais e culturais.

De toda maneira, a regra era simples: a forma urbana precisava servir à função social tirando proveito das situações geográficas existentes.

Falta de planejamento: origem na colonização continua até hoje

Com a evolução tecnológica, esse paradigma mudou: hoje somos capazes de habitar praticamente qualquer lugar do planeta.

Ainda assim, o desafio persisteorganizar territórios de forma cada vez mais compacta para atender às múltiplas funções sociais da cidade: moradia, espaço de trabalho, política, educação, saúde e lazer.

Em nosso país, estruturado à partir de sua colonização, muitas cidades nasceram de forma espontânea, sem planejamento. Povoados cresceram em torno de um assentamento jesuíta, à beira de um rio ou de uma rota mercantil de cavaleiros. Nessas origens improvisadas, o uso do solo muitas vezes precedeu a infraestrutura — e esse descompasso nos acompanha até hoje.

Um exemplo ilustrativo vem de cidades americanas, onde o traçado urbano separa claramente “ruas da frente” e “ruas de trás”. As primeiras abrigam fachadas principais e circulação social; as segundas concentram serviços, entregas e redes de infraestrutura.

Com essa separação funcional, fica mais fácil, por exemplo, enterrar fiações e criar calhas técnicas.  Essa organização permite prever e minimizar conflitos.

Já em São Paulo, vemos iniciativas pontuais nesse sentido, com calhas subterrâneas que reúnem fiação elétrica, fibra ótica em avenidas específicas e bairros privilegiados.

Ainda assim, a regra geral revela o oposto: redes expostas, sobrepostas e mal coordenadas. O resultado? Uma queda de árvore ou uma descarga elétrica pode provocar apagões em bairros inteiros.

Planejamento da infraestrutura urbana deveria ser prioridade num país tropical

O desafio se agrava quando lembramos que vivemos em um país tropical, sujeito a chuvas intensas e eventos climáticos cada vez mais extremos.

Planejar a infraestrutura urbana para resistir a essas condições deveria ser prioridade em 2025.

Mas, na prática, vemos um cenário fragmentado: uma concessionária quebra o asfalto para reparar um vazamento de água, corta sem querer cabos de internet, e o cidadão, no fim, fica sem nenhum dos serviços.

A falta de coordenação entre agentes transforma a cidade em um canteiro de obras permanentes e ineficientes, sempre à mercê de eventos climáticos.

Lições dos condomínios para gestores públicos  

É aqui que os condomínios oferecem uma lição valiosa. Quando compactamos a vida em edifícios verticais, é preciso garantir que cada unidade receba água, esgoto, eletricidade, internet e outros serviços — muitas vezes incluindo água quente, ar-condicionado central ou até aspiração por vácuo, em modelos estrangeiros.

Para isso, arquitetos e engenheiros planejam detalhadamente a infraestrutura, concentrando tudo em shafts técnicos.

O que são shafts técnicos em condomínios?

Esses shafts funcionam como túneis verticais que reúnem todas as redes. A partir deles, por meio de forros ou paredes, cada serviço é distribuído internamente às unidades.

Esse arranjo traz vantagens claras: simplifica a manutenção, reduz custos, evita que um sistema interfira no outro e mantém o conjunto organizado e acessível. Em outras palavras, os condomínios já incorporaram aquilo que ainda falta às nossas cidades: coordenação e integração entre diferentes serviços.

Urbanismo contemporâneo têm muito o que aprender com condomínios

Ao olhar para fora dos muros, percebemos o contraste. Nas ruas, concessionárias disputam espaço sem planejamento conjunto, gerando transtornos e prejuízos. Dentro dos prédios, a convivência técnica é regra — porque sem ela seria impossível garantir qualidade de vida aos moradores.

Em nosso país, urbanismo contemporâneo precisa aprender com essa lógica condominial.

O planejamento das infraestruturas deve ser pensado como um sistema único, capaz de receber múltiplos serviços sem que um prejudique o outro. Mais do que uma questão estética, é uma exigência funcional em tempos de cidades densas, dinâmicas e cada vez mais dependentes de serviços contínuos.

Por fim, é importante reconhecer um ponto crucial: essas obras de infraestrutura exigem projetos bem-feitos, investimentos significativos e, infelizmente, não trazem popularidade ao gestor.

São obras que não aparecem, já que ficam invisíveis quando concluídas, mas que incomodam muito durante sua implantação. Ainda assim, são elas que garantem resiliência, segurança e qualidade de vida às cidades.

(*) Lígia Ramos é Arquiteta Urbanista e Bióloga, síndica profissional da D’Accord há 20 anos. Cuida de aspectos práticos do condomínio, como áreas verdes, gestão de pessoas, planejamento e comunicação.

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