Medidas de segurança para carros elétricos em condomínios
Diretriz nacional sobre recarga de carros elétricos em condomínios deve ser publicada nas próximas semanas, mais flexível que a proposta original do Corpo de Bombeiros de SP, revelam envolvidos na elaboração do documento

Durante o Workshop Internacional "Eletromobilidade & Segurança nas Edificações", realizado em 6 de junho de 2025, na capital paulista, foi anunciado que uma diretriz nacional sobre recarga de carros elétricos em condomínios deve ser divulgada nas próximas semanas.
A crescente adoção de veículos elétricos no Brasil tem impulsionado uma série de discussões em relação à segurança contra incêndios em espaços destinados à recarga e estacionamento de carros elétricos em condomínios. Afinal, a frota já passou dos 469 mil veículos, segundo a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).
Passado um ano da publicação da minuta de parecer técnico do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo (CB-SP) - que deixou muitos síndicos de cabelo em pé com propostas como paredes entre veículos e chuveiros automáticos -, o mercado finalmente pode ter uma resposta sobre o que será exigido dos empreendimentos de todo o país.
Em entrevista exclusiva ao SíndicoNet, o presidente do Comitê Nacional de Estudos sobre Eletromobilidade e Acumuladores de Energia da Ligabom (Conselho Nacional dos Comandantes-Gerais dos Corpos de Bombeiros do Brasil) e comandante da Escola Superior de Bombeiros de São Paulo, Coronel Max Alexandre Schroeder, afirmou que a norma contemplará "as medidas mais seguras como regra geral e cada unidade federativa deve ajustá-las à sua legislação."
"Essa foi uma semana de discussão, envolvendo bombeiros de vários estados, para concluir esse processo. Nos debruçamos sobre essa equação complexa que tem impactos na segurança e nos custos condominiais, e agora estamos na reta final de publicação", revelou.
O SíndicoNet entrevistou diversas partes envolvidas no assunto, trazendo as motivações, exigências anteriores, como tem sido feito atualmente, consequências, alternativas e orientações para condomínios que já possuem o sistema ou pretendem instalar carregadores de carros elétricos. Confira neste conteúdo atualizado!
Linha do tempo: relembre a sequência de fatos que agitaram o setor condominial
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05/04/2024: Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo publica a Portaria CCB-001/800/2024, abrindo consulta pública por 30 dias sobre critérios de segurança para a recarga de veículos elétricos (VEs) em garagens de condomínios.
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06/05/2024: Corpo de Bombeiros prorroga o prazo da consulta pública por mais 90 dias.
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07/05/2024: Nove entidades da indústria de eletromobilidade e do setor imobiliário divulgam comunicado para tranquilizar usuários de veículos elétricos e gestores de empreendimentos que possuem estações de recarga, reafirmando que normas e leis atuais continuam valendo. Também foi proposta a criação de um grupo de trabalho conjunto para discutir diretrizes e realizar simulados.
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26/06/2024: Realização da primeira reunião com o CB-SP.
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03/08/2024: Consulta pública é encerrada com ampla participação de entidades do setor condominial, como Secovi-SP, Abrainc e SindusCon-SP.
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07/08/2024: CB-SP informa, em nota, que "realizará os devidos estudos, a fim de adequar e aprimorar a proposta de normatização para as edificações e áreas de risco sujeitas à legislação de segurança contra incêndios, cuja conclusão será publicada oportunamente na imprensa oficial."
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17/08/2024: Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (CBPMESP) integra o debate.
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26/03/2025: Bombeiros e ABVE fazem audiência pública online sobre recarga e segurança em edificações.
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06/06/2025: Workshop Internacional "Eletromobilidade & Segurança nas Edificações" encerra uma série de iniciativas dedicada ao tema, com anúncio de elaboração de uma diretriz nacional, inauguração de um laboratório de testes em tamanho real e treinamento de 200 bombeiros de todo o país para o combate a incêndios em VEs.
O que esperar da diretriz nacional para carros elétricos em condomínios
Para a construção da diretriz nacional, válida para todos os 27 estados, foram consideradas as mais de 1.500 contribuições que chegaram por meio da consulta pública aberta pelo CB-SP.
Entidades do setor condominial e imobiliário também colaboraram ativamente, pontuando as preocupações em relação à viabilidade técnica, mas, principalmente, econômica, das medidas propostas inicialmente, que poderiam inviabilizar a instalação de estações de recarga nos condomínios. (veja mais abaixo nesta reportagem as proposições feitas em agosto de 2024)
Segundo Paulo Rewald, diretor de normalização do Secovi-SP, "a maior preocupação envolvia os edifícios já existentes, mas haverá uma flexibilização total [com relação à minuta do CB-SP]. Estamos evoluindo tecnologicamente e conseguimos ter soluções muito mais objetivas."
Ricardo Bastos, presidente da ABVE, acompanhou de perto a elaboração do texto e tranquiliza os síndicos:
"Muitas dúvidas, que se traduziram em restrições, caíram. Com essa norma, esperamos deixar claro que as pessoas precisam fazer a instalação dos carregadores com profissionais, atendendo às Normas Brasileiras Regulamentadoras (NBRs) que o Brasil tem hoje."
Dessa forma, exigências como a construção de muros nas garagens e o distanciamento mínimo de cinco metros não devem integrar a normativa.
"Nossa diretriz vai exigir praticamente de todas as edificações o gerenciamento de risco, que deve ser realizado por profissionais especializados para avaliar as condições específicas do prédio e indicar o que pode ser feito, garantindo a segurança das pessoas e da estrutura", informa o Coronel Schroeder.
Foco em instalações elétricas e inclusão da micromobilidade
Ainda conforme o coronel, as particularidades de cada garagem — se estão localizadas no subsolo ou em área aberta, possuem vagas presas ou atreladas à escritura, entre outras especificações — também não são o foco agora:
"Nesse momento não estamos entrando nesse mérito. O que a gente vai regrar é a avaliação da carga de energia para ver se ela é suficiente para o carregamento de vários veículos ao mesmo tempo. Futuramente, serão propostas medidas para quem já tiver os pontos de recarga e condições de risco diferentes, então vai ter que adaptar alguma coisa."
Para embasar as orientações, foi construído, com apoio do SindusCon-SP e do Secovi-SP, um laboratório na Escola de Bombeiros de Franco da Rocha para testar incêndios em veículos elétricos e convencionais.
A estrutura de alvenaria simula uma garagem com sprinklers, detectores de fumaça, exaustores, alarmes e sensores de temperatura. Veja no vídeo a seguir:
O Major Ronaldo Ribeiro, coordenador da Comissão Estadual de Estudos sobre Eletromobilidade da CBPMESP e vice-presidente do Conselho Nacional de Segurança Contra Incêndio (CONASI) da Ligabom, lembra ainda que a questão vai muito além dos carros elétricos em condomínios.
Segundo ele, veículos modernos — sejam eles eletrificados ou não — possuem maior risco de incêndio devido a características como peças de plástico, sistemas eletrônicos e tanques maiores.
Biclicletas, patinetes e scooters elétricas também entraram no radar:
"A micromobilidade é um problema inovador, pois se tratam de baterias pequenas que não possuem o componente de gerenciamento de segurança (BMS) dos veículos grandes, então é mais fácil de serem produzidas de forma não ortodoxa. Teremos muitas ocorrências, e é por isso que entregamos 200 bombeiros capacitados para esses novos riscos", celebra.
E como fica o parecer técnico de São Paulo?
Apesar dos avanços, ainda não há data definitiva para a publicação da norma no estado.
“Alguns parâmetros podem ficar a nível do comando do Corpo de Bombeiros, e existem níveis de proteção que entram no decreto assinado pelo governador. Então, haverá um misto dessas situações nessa atualização normativa”, explica o Major Ribeiro.
De acordo com ele, as novas propostas serão “aplicáveis, nada de muito absurdo.”
“O condomínio existente tem que entender aquilo que será exigido, conversar nas assembleias e conseguir verba para fazer a implementação dessas necessidades de segurança. Então vamos propor um tempo razoável para que a sociedade se adapte e tenha condição de colocar essa norma em vigor de forma paulatina e inteligente”, disse em entrevista ao SíndicoNet no workshop.
Inicialmente, o prazo para adequações seria de um ano.
Legislações e recomendações de entidades sobre veículos elétricos em condomínios
Em todas as esferas, o Poder Legislativo tem se mobilizado para regulamentar a questão, enquanto os Corpos de Bombeiros estaduais aguardam a diretriz nacional para fazer suas próprias recomendações.
Dentre as iniciativas mais recentes, está o Projeto de Lei 158/25 da Câmara dos Deputados, que prevê requisitos para a instalação de infraestrutura elétrica e estação de recarga individual em garagens privativas das unidades autônomas.
Na cidade de São Paulo, líder no ranking de vendas de veículos elétricos da ABVE, a Lei 17.336/20 obriga novas edificações a disponibilizarem sistemas para carregamento de veículos.
Cuiabá (MT) tenta emplacar o mesmo com o PL 9.331/25. Já no Distrito Federal, segue em tramitação o PL 2.169/21.
O Rio de Janeiro também possui, nesse sentido, a Lei Municipal 8.265/24 estabelecendo a obrigatoriedade de pontos de recarga em estacionamentos com mais de 20 vagas.
- OPINIÃO: Limites da regulamentação sobre pontos de recarga de veículos elétricos em condomínios, por André Junqueira e Caroline Meireles Roque
Para além do campo legislativo, entidades do setor condominial e da construção também têm elaborado recomendações próprias, como é o caso do Conselho Regional de Engenharia (CREA) de Sergipe, que indica a proibição da recarga em garagens subterrâneas ou sob pilotis na Nota Técnica nº 001/2025, divulgada em maio.
Ainda foi definido, neste texto, que os condomínios que já possuem carregadores os reinstalem em área aberta com distanciamento mínimo de 3 metros ou barreiras físicas entre veículos.
Para Paulo Rewald, do Secovi-SP, "não é atividade do CREA esse tipo de normalização. Como o Corpo de Bombeiros do estado já revogou o parecer técnico divulgado poucos meses atrás, a gente espera que essa resolução também seja revogada."
A Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (ABADI), por sua vez, aprovou também em maio um enunciado orientando condomínios a verificarem a viabilidade técnica com profissional habilitado e seguirem as normas técnicas aplicáveis. Além disso, a entidade recomenda revisar o seguro do prédio e criar regras internas para o uso das estações.
E agora, quais as recomendações aos condomínios?
Desde que as exigências da minuta do CB-SP ganharam conhecimento público, o mercado condominial encontra-se estagnado com relação às instalações de estações de recarga para VEs, devido ao receio de que o investimento se tranforme num enorme prejuízo.
No Judiciário, inclusive, as sentenças têm sido desfavoráveis aos moradores que tentam instalar os carregadores nas garagens para abastecer seus carros após recusa do condomínio. Em todos os casos, a decisão tomada em assembleia é soberana.
Incorporadoras também estão adotando uma postura conservadora quanto a esse diferencial em novas construções. Em nota enviada ao Estadão em agosto de 2024, a Patriani alegou que aguardaria uma revisão das normas: "Nossos prédios não foram concebidos no contexto do parecer técnico da consulta pública indicada pelo Corpo de Bombeiros. Foram projetados de acordo com as normas de segurança vigentes".
Problema deve se intensificar na próxima década
Rogerio Lin, diretor da CKC do Brasil e superintendente do Comitê Brasileiro de Segurança contra Incêndio da ABNT, acredita que o combate a incêndios em veículos eletrificados vá se tornar uma preocupação somente daqui a 10 ou 15 anos:
"Hoje, a gente tem uma média de 23 a 25 mil carros que pegam fogo anualmente, poucos deles são elétricos. No entanto, essa frota tem crescido de forma significativa e, conforme ela for envelhecendo, vai precisar de manutenção."
Na opinião dele, uma parte dos consumidores sempre vai recorrer ao mercado paralelo, ao invés de procurar uma concessionária, abrindo margem para o uso de baterias de origem duvidosa, que podem aumentar a suscetibilidade a incêndios.
Para a engenheira civil e sócia da Vistum Consultoria, Kelly Ramos, o momento ainda é de se precaver.
"Os carros em circulação no Brasil são todos novos. Definir as regras desde já é importante, pois estamos tratando de vidas humanas, mas há algumas coisas que podem ser feitas além de construir paredes dentro dos subsolos. Nós temos condomínios onde as vagas são limitadas até para a abertura de portas entre carros, então imagine criar uma compartimentação de alvenaria. Acaba sendo inviável", constata.
Tecnologias novas são exploradas
Comercializadas em território nacional há menos de cinco anos, as mantas corta-fogo para carros elétricos são apontadas como uma solução mais prática para controlar incêndios em estágio inicial, mas ainda há poucas marcas em circulação, todas importadas.
Assim que fumaça ou chamas são detectadas, basta cobrir o veículo com o "cobertor" e ajustá-lo para que o oxigênio do ambiente não alimente o fogo. Dessa forma, o condomínio evita maiores prejuízos, uma vez que o incêndio não se espalha pela garagem e o local pode ser evacuado com segurança.
Devido ao risco de reignição das baterias, é indicável que carro, moto ou bicicleta seja removido ainda com o envoltório. Vale ressaltar que esse procedimento deve ser realizado apenas por bombeiros.
Segundo Lin, a CKC já vendeu exemplares para mais de 60 condomínios, sendo que os principais clientes são empreendimentos comerciais e mistos de alto padrão que já possuem carregadores em uso.
Atualmente, o síndico encontra dois modelos para escolha:
- Descartáveis, custam em torno de R$ 27 mil e só podem ser utilizadas uma vez. Há também a opção de aluguel a partir de R$ 800, sendo preciso desembolsar R$ 6 mil em caso de queima.
- Reutilizáveis, têm durabilidade para conter até 30 incêndios, 10 anos de garantia e exigem um investimento de aproximadamente R$ 50 mil.
Ambos são resistentes à temperatura máxima de 1800ºC, no entanto, a segunda opção possui componentes que prolongam sua durabilidade e acompanha um kit de reparos para furos, visto que após muitos usos é natural que o tecido fique fragilizado.
Devido ao peso de 26 quilos, o condomínio pode optar por utilizar um carrinho para transporte, mas Rogerio garante que uma pessoa é capaz de carregar a manta.
Como medida de precaução, a engenheira Kelly Ramos recomenda que os empreendimentos tenham, pelo menos, uma manta e extintores de pó químico por pavimento.
Questionado sobre o efeito da portaria da corporação paulista sobre a procura, Rogerio Lin confirma que "houve um aumento porque as pessoas estão preocupadas. Eles falam que o seguro pode até indenizar os danos, mas a operação inteira do condomínio vai parar."
De acordo com o diretor da CKC, até mesmo os Corpos de Bombeiros de São Paulo e do Rio Grande do Sul adquiriram uma manta cada um:
"O ponto positivo é que eles mesmos estão colocando essa tecnologia à prova, então acredito que possa virar uma medida compensatória, principalmente para edificações antigas que não têm como cumprir as novas exigências."
O Coronel Schroeder, no entanto, refuta a hipótese:
"É interessante que seja feito um bom treinamento de brigadas observando as peculiaridades desse tipo de incêndio para que se saiba como proceder para retirar as pessoas com segurança e permitir o acesso rápido dos bombeiros, que são os únicos que podem fazer o combate adequado."
"Eu, particularmente, não acho recomendável um brigadista de um prédio manusear as mantas, dado o risco que representa um incêndio em veículo elétrico, com emissão de gases tóxicos. É extremamente perigoso uma pessoa sem treinamento e sem equipamento de proteção respiratória tentar aplicá-la diretamente sobre as chamas", complementa.
Na opinião de Kelly Ramos, o fato de a solução não ter sido contemplada também é uma prova de que a corporação busca alternativas viáveis para a maior parte dos condomínios.
Segundo a engenheira, "eles acabam tentando resolver um problema do todo, então o que é mais fácil: construir uma parede de alvenaria de R$ 1.000 ou comprar um lençol que custa R$ 25.000? Às vezes, pelo porte do condomínio, ele não consegue ter essa despesa."
Vale mencionar que, por não se tratar de item obrigatório por lei, as mantas contam apenas com certificações internacionais.
Cuidados com as instalações elétricas são igualmente relevantes
Outra questão para a qual Luís Fernando Monteiro, professor do Depto. de Engenharia Eletrônica e Telecomunicações da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), chama atenção é a preocupação com a má qualidade das instalações elétricas para a instalação dos VEs. Afinal, haverá mais uma fonte de energia conectada à rede elétrica.
O engenheiro eletricista Jéferson Oliveira, da Laplace Consultoria e Perícias Elétricas, caminha para o mesmo pensamento, apontando alguns fatores que podem afetar a rede, gerando uma demanda de energia concentrada, como:
- Local e horário de recarga das baterias;
- Nível da bateria no momento da conexão à rede;
- Tendência de crescimento da demanda associada à decisão de compra de veículos elétricos.
"Se cada morador optar por recarregar a bateria do seu carro elétrico no horário de chegada convencional do trabalho, normalmente entre 18h e 19h, noite a dentro, será que o disjuntor geral do prédio e a fiação elétrica irão suportar a demanda, causando incêndios ou desligamentos indesejados? É um risco não ter controle sobre isso também", ratifica o professor da Uerj.
Segundo o Coronel Schroeder, nesse momento, condomínios que tiverem o AVCB em dia e quiserem seguir com a instalação dos carregadores não precisam formalizar nada ao Corpo de Bombeiros, mas é importante seguir o que está disposto na NBR 17.019.
"O que a gente recomenda é um sistema tipo três, com wall box, que interage com a bateria e acompanha qualquer alteração. Além disso, fazer o cálculo da carga de incêndio para ver se a edificação pode receber esse carregador", diz.
Kelly Ramos conta que, em meados de 2023, chegou a instalar 17 carregadores em um prédio residencial. Para tanto, foi necessário realizar primeiro uma análise de consumo de energia do condomínio durante 30 dias. Somente depois foi feito um projeto específico para quantidades de tomadas.
Já na implementação, ela detalha que utilizou equipamentos de última geração, com destaque para:
- Transformador busway, que possui barramentos blindados para maior proteção dos condutores elétricos.
- Sistema de controle de carga capaz de distribuir a energia de maneira uniforme para que todos os carros sejam carregados sem sobrecarregar as instalações elétricas do condomínio.
Conforme lembra a engenheira, a grande questão a ser tratada é a dificuldade em conter as chamas em baterias de lítio, mas não se pode ignorar cuidados básicos:
"Muitas vezes, as pessoas acham que cuidar dessas instalações é simples, mas a gente precisa se atentar a detalhes como equipamentos apropriados, hidrantes em funcionamento, modulagem de portas corta-fogo e extintores adequados para cada tipo de incêndio. Comunicar a seguradora sobre a existência de veículos elétricos na edificação também é igualmente importante para uma cobertura ampla de responsabilidade civil."
Kelly ainda reforça a necessidade de uma equipe interna de manutenção bem treinada para fazer rondas assertivas, ao invés de "ficar simplesmente passeando pelo condomínio."
Motivos da portaria do Corpo de Bombeiros sobre carros elétricos em condomínios
A minuta do Parecer Técnico nº CCB-0001/800/24 do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo aborda a necessidade de medidas de segurança contra incêndio em espaços destinados à recarga de veículos elétricos (VE), o que engloba os condomínios.
Fruto do trabalho de uma Comissão Especial, o documento destaca o aumento significativo das vendas de veículos elétricos no Brasil.
O ano de 2024, inclusive, foi o melhor da série histórica da ABVE, com 177.358 emplacamentos. Com isso, os emplacamentos de veículos eletrificados superou em 89% o total de 2023. De 2012 a maio de 2025, o total geral de veículos eletrificados vendidos no País é de 469.112, de acordo com a entidade.
Ricardo Bastos atribui os números à redução de preços:
"O processo de eletrificação vai acelerar à medida que o custo das baterias está diminuindo e a escala de produção crescendo, muito puxado pela China e Europa. Isso permite que mais pessoas tenham acesso à essa tecnologia, que também proporciona uma experiência mais confortável e ecológica. Esses ingredientes me levam a prever que, entre 10 a 20 anos, vamos ter dominância das vendas e depois da frota", reforça o presidente da ABVE.
Então, com o crescimento da frota desses veículos, o Corpo de Bombeiros entende que haverá mais trabalho no atendimento a combate a incêndios, especialmente devido aos riscos ampliados relacionados às baterias de íons de lítio - um componente comum em celulares, notebooks e câmeras.
Entre outros fatores como exposição a temperaturas extremas, vibrações e impactos durante o percurso, as baterias de carros elétricos são consideravelmente maiores, assim como a capacidade de armazenamento, se comparadas às encontradas em dispositivos eletrônicos portáteis.
Isso significa que a bateria de íons de lítio acumula uma quantidade superior de energia, o que pode resultar em incêndios mais intensos e difíceis de controlar.
Sendo assim, os incêndios em VE apresentam desafios específicos, como a dificuldade de extinção e provocando labaredas altas e intensas, as quais demandam grandes volumes de água, além da alta dissipação de gases tóxicos e calor, o que aumenta o potencial de reignição do incêndio. Ou seja, o fogo volta a se propagar dias depois mesmo que tenha sido aparentemente extinto. Saiba mais no vídeo a seguir:
Ricardo Bastos lembra, no entanto, que o momento mais seguro do carro elétrico é durante o carregamento:
"Todos os sistemas de proteção estão ativados, como o sistema de resfriamento e de gerenciamento de bateria. Os carregadores também são inteligentes e possuem sistemas de verificação que desativam o equipamento em caso de anormalidades, sem necessidade de ação humana."
Em entrevista à Folha de São Paulo, em dezembro de 2023, o porta-voz do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, capitão André Elias, afirmou que, embora os casos de incêndio em veículos elétricos sejam raros, causam um dano maior devido à dificuldade em controlar as chamas.
De acordo com o NTSB (sigla em inglês para Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA), ocorrem, em média, 25,1 incêndios a cada 100 mil carros elétricos em circulação. Esse número sobe para 1.529 a cada 100 mil no caso dos carros com motor a combustão.
No entanto, o que o capitão defende é que já existe um vasto conhecimento sobre o que fazer em ocorrências ligadas a veículos a combustão, enquanto os carros elétricos são uma tecnologia relativamente nova, muito recente no que diz respeito a incêndios.
Citando "estudos globais", o texto do parecer dos bombeiros indica que a detecção precoce e o combate nos primeiros indícios de fogo são essenciais para uma eficaz extinção dos incêndios relacionados a esse tipo de bateria presente nos veículos elétricos.
Diante disso, a garagem dos edifícios com sistema de carregamento de carros elétricos também precisa estar preparada para minimizar os riscos de danos estruturais e preservar a vida das pessoas.
Vale ressaltar que a lei em São Paulo faz menção vaga às normas, limitando-se, assim, no artigo 1º, inciso I:
"I - modo de recarga do veículo elétrico conforme normas técnicas brasileiras" (grifo SíndicoNet)
Enquanto isso, a proposta dos bombeiros em São Paulo menciona a norma internacional sobre "Instalação de Sistemas estacionários de armazenamento de energia (NFPA 855)", desenvolvida pela National Fire Protection Association (NFPA) - uma organização dos Estados Unidos voltada à promoção da segurança contra incêndios.
Tal norma trata especificamente da instalação de sistemas que armazenam energia elétrica em instalações fixas, como baterias de íons de lítio, por exemplo, sugerindo a "segregação adequada dos veículos".
O Corpo de Bombeiros do estado de São Paulo também realça a importância das edificações garantirem ambientes ventilados e rotas de fuga eficientes.
Por fim, a corporação reforça que o tema ainda está em fase de debate e carece de regulamentação específica, sendo um documento pioneiro em abordar o assunto, tanto nacional quanto internacionalmente.
Exigências dos bombeiros para carregamento de carros elétricos em condomínios
Listamos abaixo os principais critérios de segurança contra incêndio que constam na minuta do parecer técnico do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo para edificações que detêm ou pretendem instalar carregadores de carros elétricos coletivos ou individuais. Confira:
- Fornecer um ponto de desconexão manual para cada estação de carregamento, a uma distância entre 20 e 40 metros da estação de carregamento e em um local diferente, mas dentro da área do prédio/condomínio, desde que haja vigilância permanente (portaria, guarita, etc.);
- Disjuntor para cortar a energia entre os módulos de carregamento e a rede elétrica;
- Sinalização de emergência no espaço de carregamento e próximo ao ponto de desconexão, indicando a posição de cada ponto de carregamento e o disjuntor correspondente;
- 2 extintores ABC, com distância máxima de caminhada de 15 metros.
Para garagens localizadas em áreas externas e que possuam estações de carregamento (ou seja, não dispositivos individuais), além dos requisitos anteriores, deverão possuir medidas de segurança adicionais, sugerindo duas alternativas:
- Distância mínima de segurança de 5 metros em relação às demais vagas do estacionamento, locais com carga de incêndio ou áreas de risco.
- Portas corta-fogo, com dimensões de 1,60m de altura por 5m de comprimento.
Medidas de segurança mais rígidas para garagens subterrâneas
No item 2.14 da minuta do parecer técnico dos bombeiros, recomenda-se a instalação de carregadores de carros elétricos, preferencialmente, em áreas descobertas e externas à edificação.
Caso as estações de recarga estejam situadas no subsolo ou edifícios garagem, os prédios deverão atender a medidas de segurança mais rígidas. São propostas duas opções:
- Sistema de detecção de incêndio (por calor, não fumaça, pois as emissões dos escapamentos dos carros com motor a combustão podem ativar desnecessariamente o equipamento) e chuveiros automáticos em todo o pavimento onde houver vagas que possuam carregamento elétrico, conforme Instrução Técnica nº 23 do Corpo de Bombeiros de SP.
- Cada vaga com base de carregamento elétrico deve possuir um sistema de detecção de incêndio (pontual), além de ser isolada por porta corta-fogo de 5m de comprimento até o teto do pavimento e dispor de, no mínimo, dois chuveiros automáticos.
No quesito "chuveiros automáticos", é preciso pensar na reserva técnica de água para abastecer esses pontos em caso de incêndios. Segundo relato à Folha, o capitão André Elias explicou que, atualmente, um condomínio de oito andares e quatro apartamentos de 70 m² por pavimento, por exemplo, bastam 8 mil litros. Caso a norma seja oficializada, passariam a ser necessários 40 mil litros.
Devido à fumaça decorrente dos gases tóxicos gerados na queima, será necessário, ainda, um sistema de ventilação do subsolo, combinando requisitos de proteção térmica e extração mecânica, cujas instruções seguem previstas na Instrução Técnica nº 15 - Controle de fumaça do Corpo de Bombeiros do estado de São Paulo.
De qualquer forma, a medida anterior poderá ser dispensada caso o pavimento da edificação seja dotado de ventilação natural com abertura mínima de 50% em todas as fachadas.
Além da IT nº 23, o texto da minuta do parecer técnico cita, ainda, que as instalações devem respeitar os parâmetros internacionais da NFPA 15 (Sistemas fixos de pulverização para proteção contra incêndio) ou NFPA 750 (Sistemas de proteção contra incêndio por névoa de água).
Outro ponto relevante da minuta do parecer técnico é a proibição de sistemas de carregamento de VE em garagens que possuam as famosas "vagas presas", por conta do layout que dificulta o acesso aos veículos.
Prazos para adequação
A minuta do parecer técnico do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo estabelece o prazo de 1 ano para que as edificações que contemplem sistema de carregamento de carros elétricos realizem as adequações exigidas.
AVCB
Como estamos falando de combate a incêndio, vale lembrar que todas essas medidas serão consideradas para fins de emissão do documento dos bombeiros, o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros).
Dessa maneira, o AVCB dos edifícios também deverá ser atualizado para se adaptar às determinações dos bombeiros. Se não houver alterações às medidas, o Projeto de Segurança poderá ser regularizado por meio de Formulário de Assistência Técnica (FAT).
Para as edificações novas que ainda não possuem projeto de segurança contra incêndio aprovado (AVCB), o ato normativo passa a vigorar da data de publicação do documento.
Responsabilidade por acidentes
Em caso de sinistros registrados nas estações de carregamento, ocorridos dentro do prazo de adequação (1 ano), as responsabilidades serão inteiramente do técnico que executou o serviço e da empresa instaladora, seguindo os critérios estabelecidos pela norma NBR 17019 (Instalações Elétricas - Alimentação de veículos elétricos).
E, de maneira subsidiária, proprietário e responsável pelo uso (condomínio) também serão responsabilizados.
Opinião de especialistas quanto às exigências do Corpo de Bombeiros sobre carros elétricos
Além dos especialistas já mencionados na matéria, o advogado especialista em mercado imobiliário Jaques Bushatsky e o diretor de condomínio e locação da ABADI (Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis) Marcelo Borges, também refletiram sobre as exigências do Corpo de Bombeiros e suas consequências.
Destacamos, a seguir, os principais pontos levantados pelas fontes. Confira!
Importância do parecer por questões de segurança, sem inviabilizar a tecnologia
Marcelo Borges, da ABADI, acredita que a ABNT já editou Normas Regulamentadoras quanto à instalação de estações de recargas de carros elétricos e seguir tais orientações já seria um passo adequado para erradicar os riscos.
"Portanto, me parecem um pouco exageradas as exigências contidas no relatório do Corpo de Bombeiros de SP, cujo atendimento realmente poderá inviabilizar o uso desse tipo de veículo. Nós entendemos que o progresso gerado por essa matriz energética não deva ser freado", conclui.
O advogado Jaques Bushatsky prefere se alinhar entre os cautelosos. "Primeiro, o Corpo de Bombeiros tem brilhante atuação há 145 anos. É o maior Corpo de Bombeiros da América Latina! Obviamente, acumulou experiência e técnica suficientes para cuidar do tema", defende.
No ponto de vista de Evandro Mendes, que ocupava o cargo de Diretor de Infraestrutura da ABVE à época da publicação da minuta do CB-SP, a chamada pública dos bombeiros de fato é extremamente importante e necessária, justamente porque foi redigida por uma instituição muito respeitada, renomada e que detém a plena confiança da população.
Luís Fernando Monteiro, da Uerj, concorda que a partir do momento em que se instala pontos de recarga de carros elétricos em prédios, deve existir um sistema mais criterioso e rebuscado de combate à incêndio.
"E em se tratando de bateria de íons de lítio, que dá, sim, mais trabalho para apagar o fogo, esse risco precisa ser minimizado. Por isso, achamos positivo a corporação tocar no assunto de segurança das instalações para carregadores para veículos elétricos", complementa Evandro.
Ainda assim, ele entende que o assunto precisa ser melhor debatido, com calma e aprofundamento técnico. A sugestão é dar maior embasamento às medidas de segurança, porém, de maneira coerente, sem inviabilizar uma tecnologia que está em expansão no mundo inteiro, sendo fundamental para a mobilidade pública e meio ambiente.
Nesse ponto, faz-se necessária a ressalva de que o documento do Corpo de Bombeiros não é definitivo, pois esteve em consulta pública por 120 dias, isto é, a sociedade pôde opinar, sugerir e melhorar o estudo minucioso já feito pela corporação.
Evandro relembra que esta não é uma prática tão comum do Corpo de Bombeiros, o que mostra que a instituição está atenta e aberta a ouvir os interessados e, com isso, ter uma maior contribuição para sua tomada de decisão.
Na opinião do ex-diretor de infraestrutura da ABVE e fundador da Eletricus, de modo geral, todos os pontos citados na minuta são importantes, mas possuem um grau de dificuldade na execução não só estrutural, mas sobretudo, econômica.
"Enfim, há a necessidade de um aprofundamento técnico por parte, não só do Corpo de Bombeiros, mas de todos os interessados na pauta. Precisamos trazer contrapontos, fazer um debate amplo sobre materiais, referências, históricos e premissas do que foi levantado até então para fazer os devidos ajustes e assim seguir o melhor caminho", enfatiza Evandro.
Por exemplo, os chuveiros em cima do carro minimizam o fogo, mas não extinguem a fonte de energia que está queimando.
Eles funcionam perfeitamente quando têm acesso direto à bateria, mas em VE, por serem extremamente bem vedadas, lá no assoalho, não atingem o foco do incêndio em si. Isso sem contar que esse trabalho não é eficaz com extintores do tipo ABC, e sim com água pura.
A parede corta-fogo é outra questão impeditiva, mas, ainda que não tenha sido mencionado no texto, o armazenamento de volume de água para abastecer os chuveiros também causa um impacto gigante, obrigando o prédio a aumentar em até três vezes essa reserva para combater um incêndio.
Por mais que as exigências técnicas presentes na proposta do Corpo de Bombeiro já tenham assustado as pessoas por si só, o prazo de 1 ano, considerado curto para realizar as adequações, provocou ainda mais calafrios.
"Imagine um prédio com 40 carregadores elétricos. Como você vai fazer essa adequação em 1 ano apenas? É muito importante a preocupação dos Bombeiros, lógico que a vida e a segurança estão em primeiro lugar, mas não adianta projetar algo na teoria que, na prática, impede os condomínios de executá-lo. É preciso ponderar risco, probabilidade e impacto em termos de custo", argumenta Evandro.
O engenheiro Luís Fernando estima que se as adequações encarecem a instalação de estações de carregamento de VE em 20% já poderia ser algo que barrasse esse tipo de tecnologia nos condomínios.
"Quanto mais restrições, menor o uso, o que majora o custo agregado do sistema, pois eleva o valor do quilowatt-hora. Então a vantagem de se ter um veículo elétrico começa a declinar", ele expõe.
Evandro faz uma comparação de custo entre prédios residenciais e comerciais ou outros estabelecimentos, como estacionamentos. "Empreendimentos residenciais têm um sistema de combate a incêndio menos rígido, mas também possuem menor valor, com apartamentos na faixa de R$ 500 mil. Qual a viabilidade financeira de executar isso?", questiona.
À Folha, o capitão André Elias do Corpo de Bombeiros confirmou que as novas normas podem encarecer futuras edificações, mas isso só poderá ser calculado após a divulgação do parecer técnico em definitivo.
Ausência de dados do Corpo de Bombeiros contradiz a segurança de veículos elétricos
Outra polêmica levantada com a minuta do parecer técnico do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo é a falta ou inconsistência de dados para justificar as medidas propostas.
Na visão de Evandro Mendes, os carros elétricos são seguros, pelo menos, se compararmos com a incidência de incêndios dos veículos movidos a combustão. Ele sustenta isso com base numa pesquisa que fez entre 2019 a 2022 nos Estados Unidos.
“Não há histórico no Brasil de incêndios devido a baterias e BMS durante a recarga. Observando o mercado dos EUA naquele período, onde ocorreram apenas 3 a 5 incêndios, de um total de quase 6 milhões de veículos elétricos, ressalto que a incidência é praticamente irrelevante, contrastando com a média anual de 213 mil incêndios em veículos a combustão”, ele analisa.
Nesse contexto, pegando uma base de cada 100 mil veículos elétricos, há menos de 26 casos de incêndio, ou seja, cerca de 61 vezes menor do que nos veículos a combustão - algo equivalente à chance de "uma pessoa ser atingida por um raio".
Contrapondo a ideia de insegurança ligada às baterias de íons de lítio, Evandro enxerga que, na verdade, o Corpo de Bombeiros está condicionando a proteção à existência de um carregador ou não, pois "se na garagem existem mil carros elétricos, mas nenhuma fonte de abastecimento, então não teria problema?", reflete.
Quem sabe voltar o olhar para os veículos elétricos em si, desenvolvendo um sistema de refrigeração interna da bateria que possibilite a circulação de água por todo o carro, também seja uma alternativa. Está aí uma tarefa essencial para as montadoras.
Na entrevista à Folha de São Paulo, o porta-voz do Corpo de Bombeiros relata que "estatísticas globais" demonstram que 13% dos veículos elétricos que pegaram fogo sofreram reignição das baterias em um intervalo de até 30 dias após a ocorrência.
Evandro rebate dizendo que em nenhum outro país do mundo, muitos deles já avançados quanto ao uso de veículos elétricos, foram determinadas regras tão rígidas de combate a incêndio.
Considerações de entidades do setor imobiliário foram avaliadas
Secovi-SP, Abrainc e SindusCon-SP apresentaram suas considerações conjuntamente, em agosto de 2024, em resposta à consulta pública sobre a minuta do Corpo de Bombeiros. Dentre as pontuações feitas, destaca-se a necessidade de uma diferenciação clara entre “edificações existentes” e “edificações novas” para assegurar uma aplicação consistente da regulamentação.
Para as entidades, as medidas preventivas deveriam incluir apenas: extintores ABC, critérios de instalação conforme normas técnicas (NBR 17019, NBR 5410 e NBR IEC 61851-1), redes de distribuição elétrica com dispositivos de desligamento emergencial e sinalização adequada.
Considerando o baixo risco em comparação com veículos a combustão, elas defendem ainda que somente nos empreendimentos construídos recentemente seria cabível a cobrança de sistema de chuveiros automáticos em vagas cobertas destinadas ao carregamento de veículos elétricos, conjugadas com o sistema de hidrantes e sem necessidade de reserva adicional de água.
Foi sugerido ainda que o prazo de um ano para implementação seja aplicado apenas para os novos condomínios, enquanto para os existentes o intervalo seja de três anos. Por fim, as entidades recomendaram que a Portaria contemple mecanismos de atualização com base em novos estudos e tecnologias de fabricação de veículos e de proteção contra incêndio.
Posicionamento do Corpo de Bombeiros
Em nota informativa emitida no início de agosto de 2024, o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo afirma que vai rever as medidas propostas na minuta do parecer técnico, considerando as sugestões feitas por diferentes stakeholders envolvidos na questão. Confira na íntegra:
"Considerando a Portaria Nº CCB-001/800/2024, publicada no Diário Oficial do Estado (DOE nº 65, de 05ABR24), que disponibilizou para consulta pública a minuta intitulada “Parecer de Ocupações com estações de recarga para veículos elétricos”.
Considerando que a referida consulta foi prorrogada por mais 90 (noventa) dias, a contar de 06 de maio de 2024, por meio da Portaria Nº CCB-002/800/2024, publicada no DOE nº 85, de 6 de maio de 2024 – SUPLEMENTO, totalizando um período de consulta de 120 dias.
Desta forma, no dia 03 de agosto de 2024, encerrou-se o período da consulta pública.
Em virtude da complexidade da temática e devido à elevada quantidade de manifestações, sugestões e informações enviadas por parte das montadoras de veículos, entidades profissionais, centros acadêmicos, representantes das construtoras, Corpos de Bombeiros Militares de outros estados e de toda a sociedade envolvida, bem como, em função da coleta de novos subsídios sobre a questão, visando reanalisar e reavaliar as medidas de segurança contra incêndios contidas no citado “parecer”, o CBPMESP via Departamento de Segurança e Prevenção Contra Incêndios realizará os devidos estudos, a fim de adequar e aprimorar a proposta de normatização para as edificações e áreas de risco sujeitas à legislação de segurança contra incêndios, cuja conclusão será publicada oportunamente na imprensa oficial.
São Paulo, 07 de agosto de 2024.
NILTON CESAR ZACARIAS PEREIRA
Como o abastecimento de carros elétricos é feito nos condomínios atualmente
Atualmente, há duas maneiras de abastecer veículos elétricos no condomínio: estação de recarga individual na vaga do condômino (utilizados em instalações fixas, como paredes e totens) ou estação de recarga coletiva.
Esta matéria não vai entrar no mérito de como carregar o VE ou quem vai pagar pelo uso da energia, e sim, focar nos pontos referentes à segurança contra incêndios durante o carregamento de carros elétricos em prédios.
Nesse sentido, os cuidados que se aplicam hoje em dia, antes de proceder com a instalação das estações de recarga na garagem do condomínio, são basicamente estes:
- Respeitar os padrões técnicos especificados pelo fabricante do veículo;
- Verificar as condições elétricas;
- Realizar uma análise de disponibilidade de potência;
- Elaborar um projeto elétrico com engenheiro especializado, com recolhimento de ART (Anotação de Responsabilidade Técnica);
- Fazer as adequações civil e elétrica necessárias;
- Contar com uma empresa especializada em eletrificação para executar o projeto, com recolhimento de ART.
Durante a fase de projeto, eletricistas e engenheiros projetam as adequações requisitadas para que as estações de recarga tenham quadros próprios de distribuição de energia, disjuntores, dispositivos de segurança contra surtos, transformadores, etc.
"Tudo isso deve estar embasado conforme disposto nas NBR 5410 (Instalações elétricas de baixa tensão), NBR 17.019 (já citada), além da ABNT NBR IEC 61851 (Sistema de recarga condutiva para veículos elétricos) e da normativa dos produtos/equipamentos fixados pelo INMETRO", assinala o engenheiro eletricista Evandro Mendes, também CEO da Eletricus, empresa especializada em infraestrutura para recarga de veículos elétricos.
No caso do síndico morador e membro do SíndicoNet Clube Fernando Buss, em 2023, o seu condomínio de 40 apartamentos instalou um ponto de recarga individual para veículos elétricos. As medidas de segurança foram centralizadas na parte elétrica e não teve grandes dificuldades.
"Identificamos a corrente de energia elétrica e constatamos que tínhamos carga disponível o suficiente para ser utilizada com segurança. Como a garagem já possuía tomadas individualizadas, somente foi substituída a fixação pela bitola especificada pelo fabricante do veículo", ele especifica.
Fernando acrescenta que houve, ainda, a preocupação para que a instalação não ficasse exposta a condições externas, como vazamentos - tão comuns em lajes de garagem.
Média de custo para instalação de estações de recarga individual e coletiva
Os custos de instalação de uma estação de recarga individual de carro elétrico e uma estação de recarga coletiva podem variar consideravelmente.
Essa estimativa depende de vários fatores, incluindo a marca e o modelo da estação de recarga, a capacidade de carga (potência), a infraestrutura elétrica existente no local, os custos de mão de obra e os requisitos específicos do projeto.
Em média, uma estação de recarga individual para carro elétrico pode custar entre R$ 2 mil a R$ 6 mil. Já o sistema coletivo terá um custo mais elevado para suportar múltiplos pontos de carregamento e uma infraestrutura elétrica mais robusta, variando entre R$ 10 mil a R$ 30 mil.
Até que a discussão sobre a instalação de carregadores de carros elétricos em condomínios se consolide frente às exigências do Corpo de Bombeiros, você pode se aprofundar ainda mais no assunto lendo outras matérias do SíndicoNet como esta sobre abastecimento de carros elétricos em condomínios.
Fontes consultadas: Evandro Mendes (fundador da Eletricus e ex-diretor de infraestrutura da ABVE); Fernando Buss (síndico morador); Jaques Bushatsky (advogado); Jéferson Oliveira (engenheiro eletricista); Kelly Ramos (fundadora da Assyst Engenharia); Luís Fernando Monteiro (professor do Depto. de Engenharia Eletrônica e Telecomunicações da Uerj); Marcelo Borges (diretor de condomínio e locação da Abadi); Max Alexandre Schroeder (presidente do Comitê Nacional de Estudos sobre Eletromobilidade e Acumuladores de Energia da Ligabom e comandante da Escola Superior de Bombeiros da CBPMESP); Paulo Rewald (diretor de normalização do Secovi-SP); Ricardo Bastos (presidente da ABVE); Rogerio Lin (diretor da CKC do Brasil e superintendente do Comitê Brasileiro de Segurança contra Incêndio da ABNT); Ronaldo Ribeiro (coordenador da Comissão Estadual de Estudos sobre Eletromobilidade da CBPMESP e vice-presidente do CONASI/ Ligabom).