A culpa não é do porteiro: segurança é dever de todos
A segurança de um condomínio é uma obrigação de todos, onde cada um deve exercer seu papel. Tomar as medidas necessárias após um trauma não é o melhor caminho

Cresce o número de invasões em condomínios de alto padrão devido às fragilidades encontradas no gerenciamento dos riscos e na gestão de pessoas. Bandidos entram pelas portarias se passando por moradores.
A vida pós-pandemia trouxe uma maior complexidade aos condomínios. As grandes operadoras refletem está mudança. Mais de 85% das residências têm acesso a internet.
Mercado Livre possui uma frota de aviões e milhares de entregadores. Amazon conta com galpões e estrutura que possibilita entregas em tempo recorde. iFood atende mais de 55 milhões de clientes e cerca de 110 milhões de pedidos por mês. Muitos com destino certo: onde você mora ou trabalha.
Porém, as portarias não acompanharam este ritmo. Muitas não possuem estruturas físicas adequadas, tecnologia, protocolos de segurança e treinamento. Os porteiros, além das encomendas, recebem visitantes e prestadores de serviços, monitoram câmeras, atendem moradores entre outros. Pequenos deslizes podem gerar reações explosivas de um dos seus diversos patrões: o morador.
A segurança, já comprometida, se agrava quando moradores ou os responsáveis pelas unidades não cumprem o seu papel.
O porteiro necessita de um ambiente seguro, acesso a informações atualizadas, autoridade para cumprir suas funções e apoio quando precisa lidar com situações críticas.
O síndico deve garantir o bom funcionamento do condomínio, conforme determina o artigo 1.348 do Código Civil, que atribui a ele a responsabilidade de zelar pela prestação dos serviços, entre eles, a segurança.
Promover a cultura de segurança, estabelecer processos, definir a tecnologia adequada, treinar os envolvidos, monitorar e definir os ajustes necessários na operação se enquadram no escopo dessa responsabilidade.
"Sabe com que você está falando?"
Os bandidos fingem ser moradores por saberem que, muitos deles, sabotam os protocolos de segurança do próprio condomínio.
O famoso “sabe com quem você está falando?” amedronta. Em caso de um episódio grave, culpar o porteiro e pedir a sua demissão é a solução mais confortável quando o mais correto seria identificar a causa.
Passou da hora de mudar essa mentalidade, pois somente aqueles que já sofreram uma invasão sabem os traumas gerados. Não devemos esperar que o mal aconteça para promover uma cultura de segurança.
Os moradores devem cumprir o seu papel, conforme igualmente estipulado no artigo 1.336 do Código Civil: fazer uso de sua unidade de maneira a não prejudicar o sossego, a salubridade e a segurança dos demais - isso inclui o respeito aos profissionais de segurança está incluso.
Desacatos devem ser punidos. É um erro acreditar que o ambiente está seguro e que o porteiro conhece todo mundo.
Síndicos e gestores têm a lei a seu favor. A mesma que exige e pune, também protege.
Moradores que violam regras, de forma reiterada, podem ser enquadrados como condôminos antissociais e até perder a posse do imóvel.
A Lei do Stalking e o Código Penal protegem contra ameaças, agressões físicas e perseguições nos tais grupos de “whatsapp”.
As peças estão no tabuleiro e cabe a cada um de nós montar a paisagem que desejamos.
(*) Leonardo Diniz Mascarenhas é síndico, empreendedor, palestrante e professor. Diretor Nextin Brasil. Síndico 5 Estrelas, embaixador Porter e conselheiro CAM. Magic Leader Orlando (1ª turma). Contato: @leo_diniz_mascarenhas e leo@nextin.com.br.