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Administração

Prédio interditado

Conheça a história do síndico de 'Holiday', em Recife

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
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'Preciso fazer valer o voto de confiança', diz síndico do Holiday sobre interdição que deixou 3 mil pessoas sem casa

Rufino Neto chegou a morar sete meses dentro de um carro. Dez meses depois, ele luta pelo edifício e contra o preconceito de morar num local por vezes chamado de 'favela vertical'.

Em fevereiro de 2019, quase 3 mil moradores do Edifício Holiday, na Zona Sul do Recife, foram pegos de surpresa por uma sucessão de problemas que levaram à interdição do prédio. Dentre eles, havia um que, em tempo integral, lutava pela própria moradia e de quem, para ele, tornou-se família após mais de uma década vivendo lado a lado. Dez meses depois, Rufino Neto, síndico do condomínio, continua procurando formas de retomar a vida no local que ele e os filhos aprenderam a chamar de lar (veja vídeo acima).

(O G1 iniciou, na segunda-feira, 23, uma série especial com pessoas que enfrentaram situações difíceis em 2019. A cada dia até sexta-feira, 27, o portal publica matérias com personagens de fatos marcantes noticiados pela imprensa reavaliando o ano e falando das expectativas para 2020.)

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"Eu preciso fazer valer o voto de confiança que recebi quando ele [o Holiday] estava erguido com todos dentro. Eu não tenho porquê sair agora que ele desocupou. Também me sinto privilegiado por ser o morador que está à frente, podendo resolver os problemas. É difícil, a gente sabe, muito difícil. Já deu vontade de desistir várias vezes", disse Rufino.

A história do Edifício Holiday, construído em 1956, se confunde com a história do bairro de Boa Viagem. O prédio foi um dos responsáveis pela expansão imobiliária na região, hoje um dos principais cartões-postais do Recife. Entretanto, a história de 63 anos do Holiday foi marcada por casos de homicídios, suicídios, roubos, tráfico e consumo de drogas e prostituição, vindo a ser chamado de "favela vertical".

A desvalorização do Holiday, mesmo estando localizado num bairro nobre, ocasionou os problemas apontados para a interdição judicial, que vão desde a inundação do subsolo até a falta de componentes básicos de prevenção ao fogo, além de falhas e da sobrecarga das instalações elétricas. Para Rufino, no entanto, quem se deixa levar pela má fama do prédio ignora sua essência.

"Dizem que aqui só tem o que não presta, traficante, maconheiro, prostituta, tem muita família de bem aí em cima. Tem gente que presta, cidadãos, tem pessoas de caráter. Aqui tem ovelhas negras, mas é feito qualquer prédio de luxo, só que lá é mais escondido. Aqui, por ser classe média baixa, fica mais exposto. Mas a quantidade de bandidos que tem aqui, tem no prédio vizinho", afirmou o síndico do Holiday.

A saga da desocupação começou quando a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) desligou a energia do prédio, por causa do risco de incêndio. A partir daí, Rufino viu sua vida revirada por inúmeras reuniões com órgãos públicos e tentativas de soluções com a Justiça. O trabalho dele, num escritório de advocacia, acabou ficando de lado e ele foi demitido, em um dos momentos mais difíceis de sua vida.

"Acharam que eu estava dando mais atenção ao Holiday que ao trabalho. Nessa época, comecei a morar no meu carro. Passei sete meses nessa situação, desde o corte de energia, porque estava tudo escuro e a gente ficou com medo de vândalos ou de alguém que viesse aprontar alguma coisa no prédio. Aluguei uma casinha há alguns meses, aqui perto, mas, sem dinheiro, já estou vendo que vou voltar para o carro", disse Rufino.

Rufino tem 35 anos de idade e, desde os 22 anos, mora no Holiday. Natural de Ribeirão, na Zona da Mata de Pernambuco, ele se mudou para o Recife para servir ao Exército e tomou gosto pela capital pernambucana.

"Vim morar no Holiday em 2006. Comecei morando só. Passei dois anos no quartel, depois fiquei por aqui procurando o que fazer, fiz curso de segurança, aí consegui um trabalho num restaurante. Como motoboy, eu consegui alugar e depois comprar um apartamentozinho", afirmou.

O prédio do qual se tornou síndico foi uma de suas primeiras casas, onde ele criou os dois filhos, que nos últimos anos moravam sozinhos com a mãe, depois da separação do casal. Rufino, no entanto, seguiu morando no Holiday, em um apartamento alugado perto da ex-companheira, com quem mantém relação saudável. Era à família dela, inclusive, a quem ele recorria para tomar banho e outras necessidades durante seu período morando no carro.

Segundo Rufino, seu maior desejo é a desinterdição do Holiday, o que, para ele, o faria reorganizar sua própria vida. "Foi muito rápido. Deram 5 dias para sair do prédio uma quantidade de 2 ou 3 mil pessoas. Rapidamente. A maioria delas está espalhada pelas comunidades do Recife. Os moradores querem voltar para o Holiday, mas muitos já estão perdendo a esperança, porque não recebem qualquer auxílio", disse.

Para 2020, os planos de Rufino não têm como envolver algo diferente do Holiday. Agora, ele deposita sua esperança nas mãos de voluntários, que se dispuseram a ajudar os moradores a repararem o que precisa ser concluído para que o Holiday volte a ser habitável. Cinco projetos foram montados: estrutural, elétrico, de combate a incêndio, elevador e de água e esgoto.

"Esses voluntários foram anjos que apareceram para me ajudar e sempre me dão forças quando eu estou perdendo todas as esperanças. O que conseguimos foi fixar parcerias com entidades como a Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco e o Sindicato dos Engenheiros, para que, quando esses projetos estiverem prontos, possamos dar entrada na Celpe, para aprovar o elétrico, que é o mais imediato, e partirmos para a captação de recursos para começar as obras", afirmou.

Para Rufino, morar no Holiday, mesmo depois de tantos problemas, é uma forma de resistência ao preconceito e à falta de moradia digna.

"Existe muito preconceito por ser aqui, por ser um prédio que está desgastado pelo tempo, por algumas administrações que passaram e até com os próprios condôminos, que não contribuíam para fazer as manutenções. Temos vizinhos que tentam nos ajudar, mas uma grande parte tinha preconceito, tinha medo de passar na rua", declarou.

Fonte: https://g1.globo.com/

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