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Administração de conflitos e brigas

Série "Os Outros" retrata absurdos da vida em condomínio

A convivência em condomínios pode mesmo ser um terror e todo síndico é corrupto? Matéria debate até que ponto as mensagens da série "Os Outros" são realidade

30/06/23 12:02 - Atualizado há 10 meses
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Elenco da série da Globoplay chamada Os Outros, prédios ao fundo
Recorte dos condomínios é, na verdade, uma crítica à sociedade como um todo, especificamente, à postura de cada pessoa, cada vez menos tolerantes
Paulo Belote/Divulgação

Mais uma série nacional utiliza como pano de fundo a vida em condomínio. "Os Outros" é um drama da Globoplay, que procura retratar os absurdos que uma relação entre vizinhos pode chegar quando a falta de diálogo prevalece.

Esse recorte dos condomínios é, na verdade, uma crítica ferrenha à sociedade como um todo, especificamente, à postura de cada pessoa

Conversamos com especialistas do setor condominial para tentar entender até que ponto a convivência nos condomínios se assemelha à ficção, o que fazer para evitar atitudes extremas por causa de conflitos e, por fim, refletir por que, mais uma vez, a figura do síndico é vinculada à corrupção.

Resumo da série "Os Outros", da Globoplay

Lançada no dia 31 de maio, a série "Os Outros" é uma produção nacional e Original Globoplay, criada por Lucas Paraizo com direção artística de Luisa Lima e escrita com contribuição da renomada atriz Fernanda Torres

A cada semana, sempre às quartas e sextas, são disponibilizados dois episódios, que duram, em média, uma hora. Até o final da primeira temporada, dia 07 de julho, a série acumulará 12 capítulos, sendo que a segunda temporada já está com os roteiros finalizados e gravações previstas para terem início ainda em outubro deste ano. 

A trama possui um elenco de peso, com muitos nomes já conhecidos pelo grande público noveleiro, como Adriana Esteves, Drica Moraes e Guilherme Fontes, e também do cinema, com Milhem Cortaz ('Carandiru' 'Tropa de Elite 1 e 2') e Thomas Aquino ('Bacurau'), além de Eduardo Sterblitch, que despontou na televisão como o Prateado, do programa humorístico 'Pânico na TV'.

Ambientada no fictício condomínio-clube chamado Barra Diamond, localizado da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a série "Os Outros" se desenrola a partir de uma briga banal entre dois adolescentes na quadra de futebol, que provoca um conflito generalizado entre as famílias vizinhas, com consequências absurdas.

  • Confira abaixo o trailer da série "Os Outros", da Globoplay

Se a qualidade de vida dos moradores do condomínio Barra Diamond se baseasse apenas na infraestrutura do local, tinha tudo para ser um sonho. Há quadras de tênis de grama e saibro, ciclovia de corrida, pista de skate, quadra de futebol society, etc. Acontece que ninguém vive sozinho e é a partir daí que tudo pode se tornar um pesadelo.

Analisando a cena que desencadeou o conflito central da série, é possível notar que reações mais tolerantes poderiam encerrar rapidamente o atrito, veja:

- Olha o que você fez!!! - grita a mãe ao ver o filho desmaiado no chão após ser agredido por um menino.

- Ele que começou - responde o garoto.

A mãe do rapaz que cometeu a agressão aparece, e num gesto solidário, se oferece para levar a vítima ao hospital. 

- Vocês não vão para o hospital, vocês vão para a delegacia. [...] Tira esse monstro daqui! - retruca a outra mãe.

Outro momento consuma a guerra entre as famílias de vez. Acompanhado pelo pai, o menino agressor vai até o apartamento do rapaz agredido para pedir desculpas pelo acontecido, as quais não foram aceitas pela mãe, que insiste numa postura ofensiva:

- Meu filho quebrou o braço, levou seis pontos. [...] Isso não é coisa de criança, é de bandido. Por mim ele estava preso. 

Após uma troca de insultos e intimidações, a mulher cospe na rosto do pai do menino, e o caos se instaura. 

A seguir, acontece de tudo: ofensas verbais, ameaças de morte, carro riscado por vingança, porta de vidro do condomínio estilhaçada com um bastão, invasão a domicílio, disparos com arma de fogo por menor de idade, violência doméstica, prisões e morte.

Inspirações e reflexões da série: Falta de diálogo gera intolerância e insegurança

Necessário reforçar que todos esses fatos extremos relatados na série "Os Outros" aconteceram depois de um mero desentendimento entre adolescentes. 

Os pais, adultos formados que, a princípio, detêm de maior discernimento, não souberam contornar a situação de maneira pacífica e foram obrigados a conviver diariamente sob um clima de tensão no condomínio. 

mensagem que a narrativa quer transmitir para os telespectadores é essa: até onde a falta de diálogo pode levar as pessoas. Dessa forma, nada mais ideal do que representar essa problemática com base na convivência em condomínio.

Inclusive, em entrevista exibida no 'Fantástico', o autor Lucas Paraizo conta que se inspirou nas notícias de conflitos absurdos que têm ocorrido ultimamente nos condomínios, como a do homem que, irritado com os latidos de cachorros, disparava bolinhas de metal com estilingue em direção às varandas dos prédios vizinhos.

Outros episódios extremos ocorridos no fictício condomínio Barra Diamond fazem referência a fatos reais. Além da desavença comum em que pais tomam as dores dos filhos, fezes humanas deixadas na porta de vizinho e ameaças com armas pelas áreas comuns também já foram realidade em muitos condomínios.

Em reportagem de divulgação da série no site da Globo, o autor explica que sua vontade era abordar a intolerância, utilizando a vida em condomínio como recorte para denunciar a deficiência de uma sociedade inteira

"[...] o artifício que encontrei foi mostrar a relação inerente entre vizinhos, desconhecidos que convivem lado a lado. Na trama, eles são uma forma alegórica de me referir ao convívio em sociedade. Em um condomínio, há uma mistura de personagens: em um mesmo espaço, se relacionam pessoas de diferentes classes sociais, idades e gêneros”, compara Paraizo.

Assim, a série aponta uma crítica para o comportamento de cada indivíduo dentro da sociedade. O nome dado à trama "Os Outros", por sinal, sustenta essa compreensão equivocada e irresponsável que muitas pessoas têm de si mesmas, afinal, "nunca sou eu; sempre são os outros"

A atriz Maeve Jinkings, que interpreta a personagem Mila (mãe do rapaz agressor), concorda com essa ideia. "É muito fácil você começar a ler um roteiro desse, com tanto conflito, personagens em situações tão extremas e enxergar o outro. Mas espero que o público possa se olhar no espelho”, ela afirma.

Ao site Omelete, Paraizo amarra esse ponto de vista. "Independentemente dos condomínios, todos nós temos vizinhos em cima, em baixo, dos lados. Essa escolha é a vontade de mostrar que o que vemos no outro somos nós mesmos".

A série suscita, ainda, outras reflexões relevantes sobre empatia, capacidade de escuta, compaixão, educação familiar, violência, impacto dos dilemas pessoais no coletivo, bullying, relacionamentos abusivos, entre outros conceitos que caminham juntos com a questão da tolerância.

"Os Outros" é uma realidade da convivência em condomínios?

Ao 'Fantástico', a diretora artística Luisa Lima disse: "A gente costuma dizer que a vida sempre supera a ficção. Quando você vê coisas absurdas acontecendo na ficção, com certeza pode acontecer coisas mais absurdas na vida real." 

Como citamos acima, existem inúmeros casos relacionados a brigas entre vizinhos de condomínio que, de fato, chegaram ao extremo. 

Mas para Filipe Cassapo, diretor do Lellolab ("Laboratório de Inovação da Vida em Comum" da administradora Lello Condomínios), são casos isolados e a visão que a série se propõe a passar não é uma realidade sistemática e efetiva. 

"Caso o fosse, ninguém estaria vivendo em condomínios, seria impossível. Entendemos o papel do seriado como uma reflexão importante sobre o que pode ocorrer caso uma cidade, um condomínio ou mesmo uma família, não cultive de forma consciente os valores do respeito, do comportamento justo e moral e do apoio mútuo", pondera Cassapo.

Ele reconhece que dificuldades na convivência em condomínios são comuns, mas afirma que existem alternativas para impedir que qualquer conflito se arraste e tome proporções absurdas como as da série "Os Outros".

"Dialogar: Falar com respeito e ouvir com humildade"

Do dicionário, "dialogar" quer dizer "conversar". Se retomarmos o episódio que deflagrou o embate entre os vizinhos da série "Os Outros", até existiu uma conversa, mas de maneira muito arredia e agressiva.

Isso inviabiliza o verdadeiro diálogo, que segue exemplificado na definição de Cassapo que dá nome a este intertítulo da matéria. Falas e gestos simples despidos de orgulho, como o pedido de desculpas do rapaz agressor e a ajuda para levar o menino agredido ao hospital, são capazes de desarmar as pessoas.

Porém, a solução por meio do diálogo exige que ambas as partes caminhem nesta mesma sintonia. Se uma delas não for receptiva, como mostrou a trama da Globoplay, isso afasta qualquer possibilidade de uma resolução tranquila.

"A mente do ser humano vai aonde ele quer. Sem diálogo, ele pode pensar o que quiser, dando margem a paranoias e conspirações. Já tive um caso em que a pessoa, sem ter dialogado com o vizinho antes, acreditava que o barulho era produzido de propósito para incomodá-la, como se a outra pessoa não tivesse mais nada pra fazer a não ser aporrinhá-la", conta Gabriela Megale, síndica profissional e advogada especializada em mediação de conflitos em condomínios.

Nesse sentido, uma das ferramentas que Cassapo sugere se trata da “Gestão de Contexto”, usada nos projetos do Lellolab.

A ferramenta consiste em um conjunto de práticas de diálogo e círculos reflexivos, na qual se descobre que as dificuldades interpessoais apenas podem ser resolvidas através do diálogo aberto e respeitoso e do desenho compartilhado de novas formas de relacionamento, mais harmoniosas. 

Magale indica outra técnica conhecida como "Teste de Realidade", que corresponde em um exercício de empatia: “Se estivesse passando por algo assim, como você se sentiria?”

Essas e outras técnicas podem e devem ser praticadas por qualquer morador, mas o que vemos na maioria das ocasiões é que, culturalmente, muitos "terceirizam" essa responsabilidade, seja por falta de habilidade ou por receio em se expor.

A consequência disso é que, dentro de um condomínio, compulsoriamente essa tarefa recai nas mãos do síndico.

De acordo com Magale, os condôminos lembram muito bem dos seus direitos, mas se esquecem dos deveres, de modo que o Direito de Propriedade parece estar acima do Direito de Vizinhança, por exemplo.

"E então pressionam o síndico para que ele seja o juiz de uma causa que eles mesmos criaram e poderiam resolvê-la sozinhos se tivessem um pouco mais de tolerância", reitera. 

Para ela, infelizmente, é fundamental que o síndico se envolva no primeiro indício de que algo pode se agravar, pois entende que a omissão pode atrapalhar e permitir a escalada do conflito, com efeito negativo até mesmo para o condomínio. As consequências para a comunidade vão além da sensação de que uma bomba está prestes a explodir. 

Magale compartilhou um caso que já estava fora de controle, em que duas famílias vizinhas viviam em pé de guerra a ponto de acionarem a polícia todo dia.

"O prédio desvalorizou, ouvia comentários como 'que espécie de crime está acontecendo nesse lugar que toda hora vejo policiais?'. Também perdemos nosso melhor funcionário, que pediu demissão, pois não suportava mais trabalhar nessas condições. O final para esses moradores foi um deles parar na UTI após chegarem às vias de fato e uma das famílias se mudar do condomínio", relembra a advogada, mediadora e síndica Gabriela Magale. 

É preciso, portanto, que o síndico aja no tempo certo, uma vez que aplicar o diálogo em um conflito já escalonado certamente não vai funcionar. Nem mesmo a judicialização resolverá esse entrave em sua raiz, pelo contrário, poderá intensificar ainda mais a rivalidade entre os vizinhos. 

A dica de Megale para os síndicos é ter sensibilidade de entender o momento certo de mediar. Alguns gestores podem interceder como sendo o próprio mediador do diálogo, outros podem se desenvolver estudando técnicas de mediação e comunicação não-violenta, ou mesmo contratar empresas especializadas nesse tipo de serviço. O que mais importa é tomar alguma atitude para apaziguar os ânimos. 

  • Assista ao webinar sobre Comunicação Não-Violenta aplicada em condomínios:

Crie opções para aproximar vizinhos

Após diversos acontecimentos na série da Globoplay, a mãe de um dos garotos envolvidos na briga da quadra passa a ter mais contato com a família que até então era sua algoz.

Essa proximidade a permite enxergar os vizinhos com mais empatia, de modo que, em uma das cenas, ela chega a acolher e consolar o menino que bateu em seu filho. 

Em lembrança ao lema da Lello, Cassapo evidencia que é possível transformar as relações entre moradores de condomínio:

Morar pode parecer um ato individual. Viver, por sua vez, é um ato coletivo. Acreditamos que viver une, por isso conduzimos ações de gentileza não somente dentro dos condomínios, como também entre os prédios vizinhos. 

Entre as iniciativas do Lellolab que proporcionam a interação de moradores de condomínio e vizinhos do bairro estão:

  • Eventos como piqueniques, jogos esportivos e de tabuleiros;
  • Rodas de conversa;
  • Implantação de hortas comunitárias;
  • Aplicativo em que as pessoas podem descobrir os talentos musicais, culinários e outros hobbies. 

Leia também: Como realizar eventos em condomínios com sucesso

O Easy Life, situado na Zona Norte de São Paulo, é um dos condomínios que mantém uma parceria do Lellolab para melhorar a vida em comunidade. 

A programação do evento foi cocriada em conjunto com síndicos, funcionários e moradores, e ofereceu de tudo: feira empreendedora, oficina de culinária italiana e yoga, café da manhã compartilhado, caça aos tesouros para a criançada, além de música ao vivo com um talento do próprio bairro! 

Visão estereotipada da gestão condominial 

Assim como em "Maldivas", outra série brasileira que tinha como pano de fundo a vida em condomínio, mais uma vez síndico e corpo diretivo são representados por personagens egocêntricos e corruptos, que se aproveitam do cargo para tirar proveito pessoal.

Com um subsíndico criminoso e um porteiro como fiel escudeiro, delatando possíveis armadilhas contra a síndica e fazendo vista grossa para seus deslizes, o condomínio Barra Diamond de "Os Outros" se apresenta como uma verdadeira máfia.

Violência, chantagem, corrupção e suborno são algumas das práticas empregadas pela gestão do condomínio da série da Globoplay.

Um dos acontecimentos mais simbólicos nesse sentido se dá quando o subsíndico forja o roubo do carro de um dos moradores, com o objetivo de recorrer ao argumento de insegurança e, assim, indicar sua própria empresa para reforçar a proteção do condomínio.  

A síndica, mancomunada com o subsíndico, recebe sua parte do rateio extra, que foi aprovado pelos moradores em assembleia, sem orçamentos para concorrência. 

Cassapo, da Lello, comenta um pouco sobre essa ideia enviesada da gestão de condomínios ser corrupta:

"Essas visões estereotipadas da realidade apenas possuem o propósito de aprisionar em uma realidade que parece imutável. Em uma ficção, um livro, um seriado, usa-se de arquétipos (personagens simbólicos) para reforçar certas mensagens. Mas, na prática, como sabemos, não há duas pessoas idênticas, não há realidades e situações que possam ser observadas de apenas um ângulo." 

A opinião de Gabriela Megale acompanha o entendimento de Cassapo, com um adendo de um olhar mais positivo para o mercado atualmente. 

"Pode ser até que alguns casos de roubo do passado tenham contribuído para fomentar essa concepção de que síndicos são, em sua maioria, corruptos. Mas acho que isso vem mudando. Sou otimista, principalmente porque vejo muitos condôminos sendo vigilantes e participativos. Hoje em dia, com Internet, aplicativos e outras tecnologias, é difícil um síndico desonesto permanecer no cargo anos a fio", argumenta.

E finaliza: "É triste novamente o síndico ser taxado dessa forma, porque vemos muita gente séria no mercado, que acaba pagando o pato de uma minoria irresponsável."

Outras lições para aprender com a síndica da série "Os Outros":

  • Cuidado ao focar apenas em cumprir regras do regimento interno e negligenciar o relacionamento com os moradores. É preciso jogo de cintura e traquejo para lidar com atritos de convivência;
  • Comunicação combativa, carregada de juízo de valor, jamais é uma opção;
  • Deixar de responder e-mails e WhatsApp cria uma lacuna entre você e os moradores, que é facilmente preenchida com desconfiança sobre seu trabalho.

Fontes consultadas: Filipe Cassapo (diretor do Lellolab) e Gabriela Megale (síndica profissional e advogada especializada em mediação de conflitos em condomínios).

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